Crítica: Cassandra Jenkins - My Light, My Destroyer

Quem diz que um álbum não pode mudar a vida de alguém, não entende nada de música. Ou da indústria. Ou das pessoas. Ou de tudo isso, de maneira geral. Passando por um terrível momento pessoal, logo após a morte do amigo David Berman, Cassandra Jenkins viu “An Overview on Phenomenal Nature”, segundo álbum de estúdio, ser presença nas listas de melhores do ano ao final de 2021. Uma surpresa e tanto para ela, que rapidamente viu o selo Dead Oceans, um dos braços do Secretly Group (um agregador de outros selos com Secretly Canadian e Jagjaguwar), oferecer um contrato para um álbum. Ela assinou.

Pouco tempo após toda essa loucura, em março de 2022, ela pegou COVID e ficou de cama, perdendo todo início da turnê do verão no hemisfério norte. Foi quando ela começou a escrever canções, rascunhar melodias e iniciar o trabalho em “My Light, My Destroyer”, terceiro álbum da carreira, o primeiro pela nova gravadora.

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A delicadeza inicial de “Devotion” é para fazer qualquer um se apaixonar pelo vocal logo de cara em uma faixa sem refrão, um mérito e tanto logo de cara. Assim que começa “Clams Casino”, é possível entender a forte influência do country rock na música dela do início ao fim - os principais elementos dos gêneros estão aqui, incluindo a forte guitarra e um refrão potente. Mas o ritmo e a guarda da cantora baixam inteiramente em “Delphinium Blue”, uma canção tocante e melancólica (“Chin up/ Stay on task/ Wash the windows/ Count the cash/ Cut the stems/ To make them last/ Keep it cool/ Bеhind the glass”).

Outras fortes influências no álbum são o jazz e o lado experimental, como na curta e instrumental “Shatner’s Theme”. E se “Aurora, IL” foi escrita no e sobre período de isolamento por conta da COVID, transformada em uma letra sobre reflexão e olhar sobre a vida acontecendo nas janelas e na TV, “Betelgeuse” é um diálogo entre mãe e filha transformado em um peça de jazz cheia de simbolismo ao ouvi-las conversando sobre o espaço e constelações. Os quase cinco minutos de “Omakase” permitem mostrar todo talento de Jenkins no desenvolvimento de uma letra sem exageros e, de novo, de uma maneira muito delicada. A passagem pela curtíssima “Music??” abre espaço para reflexiva “Petco” (“It's become my second nature/ To wander through the pet store/ And stare into the sideways gaze of a lizard/ Doesn't always make me feel better/ Just less alone/ Less alone”). E ainda há espaço para “Attente Téléphonique”, toda cantada em francês.

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O jazz surge novamente em “Tape and Tissue” e “Only One”, com destaque para o arranjo de ambas, que comovem na medida certa sem soar piegas (“You're the only one I've ever loved/ The only one that I know how to love/ You're the only one I've ever loved/ The only one that I know how to love”). O encerramento fica com a instrumental “Hayley”, com um ótimo arranjo de cordas para amarrar todas as ideias do álbum.

Se antes ela era uma surpresa, hoje é uma realidade e tanto em “My Light, My Destroyer”. Cassandra Jenkins é dessas artistas para ficar de olho no futuro, porque conseguir entregar um álbum melhor do que o outro em sequência não é para qualquer um.

Ficha técnica

Tracklist:

1 - “Devotion”
2 - “Clams Casino”
3 - “Delphinium Blue”
4 - “Shatner’s Theme”
5 - “Aurora, IL”
6 - “Betelgeuse”
7 - “Omakase”
8 - “Music??”
9 - “Petco”
10 - “Attente Téléphonique”
11 - “Tape and Tissue”
12 - “Only One”
13 - “Hayley”

Gravadora: Dead Oceans
Produção: Andrew Lappin & Cassandra Jenkins
Duração: 36min53

Avaliação: ótimo

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