Nos últimos anos, não dá para dissociar a nova fase do jazz de Kamasi Washington. Com 20 anos de carreira nas costas, ele conquistou espaço na música ao trabalhar com diversos artistas, mas ficou conhecido mesmo ao colaborar com Thundercat no álbum “Drunk” (2017) ao ganhar cada vez mais reconhecimento e fãs pelo mundo. Seis anos após o lançamento de “Heaven and Earth” (2018), ele retorna com o álbum de inéditas “Fearless Movement”.
Quer dizer, retornar é uma palavra forte. Afinal, ele nunca saiu de cena e apareceu em músicas de outros artistas. E talvez isso sido um fator importante na composição das faixas do novo álbum, recheado de amigos e artistas de alto nível. “Lesanu” abre com o tom religioso e é possível perceber a forte influência do trabalho de Alice Coltrane; depois, a faixa parte para o jazz tradicional e fica assim até o final.
Veja também:
Crítica: St. Vincent - All Born Screaming
Crítica: Khruangbin - A La Sala
Crítica: Mdou Moctar - Funeral for Justice
Crítica: Neil Young & Crazy Horse - Fuckin' Up
Duas críticas: Girl in Red e Faye Webster
Crítica: Taylor Swift - The Tortured Poets Department
Estou no Twitter e no Instagram. Compre livros na Amazon e fortaleça o trabalho do blog! Confira a agenda de lançamentos
Amigo de longa data, Thundercat participa dos quase oito minutos da envolvente “Asha the First” (“Now my heart is free/ Staring back at me/ Future's past I see/ Light shines from the tree/ Now my heart is free/ Staring back at me/ Future's past I see/ Light shines from the tree”), com direito a participação dos rappers Taj e Ras Austin. A seguinte, “Computer Love”, traz aquele jeito de improviso organizado que alguns amantes do jazz gostam.
A curta“The Visionary” abre caminho para “Get Lit”, essa com participação de George Clinton, líder do Parliament-Funkadelic, quando é possível entender como jazz, funk e rap são muito mais próximos do que podemos imaginar. E se “Dream State”, com Andre 3000 na flauta, mostra a força da música instrumental por quase nove minutos, “Together” é uma balada melancólica e cheia de sentimento, dessas com potencial para fazer qualquer um chorar.
O ritmo sobe quando surge o solo de saxofone na empolgante “The Garden Path” e nos mais de 13 minutos de “Road to Self (KO)”, uma sequência com mais de 20 minutos, que prestar atenção em cada detalhe é fundamental para entender esse monstro da música chamado Kamasi Washington. E “Interstellar Peace (The Last Stance)” parece ter sido retirada de algum momento dramático de um filme — é muito impactante e comovente sem precisar de uma palavra sequer.
O álbum encaminha para o final com a bonita “Lines in the Sand” (“Lines in the sand won't take my soul from me/ Lines in the sand keep us alone and weak/ Lines in the sand don't leave no space for me/ Real true peace”) e o cover de “Prologue”, de Astor Piazzolla, numa versão veloz e furiosa em que Washington quase fica sem fôlego.
Recheado de participações especiais, “Fearless Movement” mostra toda força e potência de Kamasi Washington como músico e produtor em um repertório dos melhores da carreira. Maduro, ele consegue equilibrar as demandas pessoais com assuntos universais em um estilo cada vez mais único. Em tempos de singles e atenção cada vez mais dispersa, entregar um disco de quase 1h30 é para ser valorizado. E mais ainda quando ele entrega um ótimo disco.
Ficha técnica
Tracklist:
1 - “Lesanu”2 - “Asha the First” (feat. Thundercat, Taj Austin, and Ras Austin)
3 - “Computer Love” (feat. Patrice Quinn, DJ Battlecat, and Brandon Coleman)
4 - “The Visionary” (feat. Terrace Martin)
5 - “Get Lit” (feat. George Clinton and D Smoke)
6 - “Dream State” (feat. André 3000)
7 - “Together” (feat. BJ the Chicago Kid)
8 - “The Garden Path”
9 - “Road to Self (KO)”
10 - “Interstellar Peace (The Last Stance)”
11 - “Lines in the Sand”
12 - “Prologue”
Gravadora: Young
Produção: Kamasi Washington
Duração: 86min16
Avaliação: ótimo
Comentários
Postar um comentário
Usem os comentários com parcimônia. Qualquer manifestação preconceituosa, ofensas e xingamentos são excluídos sem aviso prévio. Obrigado!