Crítica: Billie Eilish - Hit Me Hard and Soft

Aos 22 anos, Billie Eilish já tem duas estatuetas do Oscar na carreira e um sucesso avassalador desde o surgimento no final da segunda década dos anos 2000. Moldada artisticamente pelo tempo em que vive, ela é fruto de uma geração que não depende mais de uma grande estrutura de estúdio, produtores e dinheiro gastos para conseguir resultados assombrosos no streaming logo nos primeiros álbuns da carreira. E o sucesso deu a ela e a Finneas, irmão e produtor, o suficiente para colocar as próprias cartas na mesa em “Hit Me Hard and Soft”, terceiro trabalho em estúdio.

Sem singles divulgados com antecedência e mistério sobre o nome das músicas, o novo álbum ganhou convidados musicais e mais gente como assistente de produção, mixagem e outras parafernálias no estúdio. O resultado traz uma cantora mais madura e explorando a autodescoberta, tanto artística quanto pessoal, em canções cheias de personalidade. Primeira faixa finalizada, “Skinny” traz o acréscimo de instrumentos e uma nova visão para Eilish não depender apenas do computador e dos sintetizadores. Logo de cara, ambos mostram que existe uma ambição em começar a fazer algo a mais musicalmente.

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“Lunch” traz uma letra falando abertamente sobre sexualidade, da autodescoberta como uma mulher apaixonada por outras mulheres, e como isso mudou a maneira dela pensar o mundo (“I could eat that girl for lunch/ She dances on my tongue/ I know it's just a hunch/ But she might be the one”), já “Chihiro” usa o nome de um dos filmes mais famosos do Studio Ghibli, “A Viagem de Chihiro”, para falar sobre uma jovem que aprende a enfrentar os próprios medos em mais uma letra autobiográfica que usa elementos lúdicos e efeitos.

Mas claro que o estilo de produção caseira que consagrou os irmãos estaria presente, contemplado em “Birds of a Feather”. De refrão e batida simples do início ao fim, é um tipo de música que qualquer jovem com um celular faz sem esforço atualmente. E se a balada melancólica “Wildflower” é mais uma a explorar a boa voz de Eilish, “The Greatest” apresenta um sentimento agridoce sobre um relacionamento finalizado com potencial para ser algo incrível, porém acabou não sendo correspondido. Provavelmente, de todas as músicas lançadas por ela, é a mais brutalmente honesta (“Man, am I the greatest (Greatest)/ My congratulations (Congratulations)/ All my love and patience/ All my admiration (Admiration)/ All the times I waited (Waited)/ For you to want me naked (Naked)/ I made it all look painless/ Man, am I the greatest”).

A reflexão dos próprios sentimentos chega na esperta “L'Amour de Ma Vie”, mais uma de pegada pop fácil, convidativa para cantar junto e ainda ganha muito quando vira pura música eletrônica dos anos 1990. Os perigos da fama não poderiam ficar de fora e surgem na sombria “The Diner” (“The cops around the corner stopped me when I tried to leave/ They told me I was crazy and they knocked me off my feet (They told me I was crazy)/ They came in through the kitchen lookin' for something discrete/ I left a calling card so they would know that it was me”) e o resultado disso aparece na solidão retratada em “Bittersuite”. O álbum encerra falando de tristeza em “Blue”, faixa que uniu duas canções incompletas dos arquivos dos irmãos e apresenta o tom melancólico como fio condutor da mesma história de amor malfadada.

Após lançar o primeiro álbum da carreira ainda muito jovem, Billie Eilish mantém o fôlego criativo em “Hit Me Hard and Soft” ao conseguir explorar novos assuntos pessoais (autodescoberta sexual) e profissionais (o preço em ser muito famosa) em uma mistura do feito anteriormente com novas possibilidades musicais. O mais incrível sobre ela é saber a existência de potencial de crescimento, mostrada nas vitórias no Oscar com filmes completamente diferentes. Parece não haver limites para ela. E que bom.

Ficha técnica

Tracklist:

1 - “Skinny”
2 - “Lunch”
3 - “Chihiro”
4 - “Birds of a Feather”
5 - “Wildflower”
6 - “The Greatest”
7 - “L'Amour de Ma Vie”
8 - “The Diner”
9 - “Bittersuite”
10 - “Blue”

Gravadora: Darkroom/ Interscope
Produção: Finneas
Duração: 43min45

Avaliação: ótimo

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