Crítica: Zef – The Story Of Die Antwoord, de Jon Day

Documentário assistido no In-Edit Brasil 2024, marcado para acontecer de 12 a 23/06

Ninja e Yo-Landi são um casal sul-africano que passavam por severas dificuldades financeiras durante os primeiros cinco anos de vida da filha, Sixteen. Quando ela viu um clipe de um artista do movimento chamado Zef e gostou, ele não ficou nada satisfeito e tomou uma atitude: copiou todo visual da cabeça aos pés, incluindo um número bastante razoável de tatuagens. A dupla não sabia, mas seria o começo de uma ascensão meteórica do Die Antwoord, contada pelo diretor Jon Day, com acesso total a família ao longo de cinco anos.

O movimento contra-cultural Zef vem do carro Ford Zephyr, extremamente populares na África do Sul e, com o passar dos anos, cada vez mais modificados pela classe trabalhadora branca local. Como os carros, as pessoas começaram a andar com correntes, anéis, a fazer várias tatuagens e a cortar o cabelo de um jeito não convencional na construção de uma identidade visual. Isso chegou na música, sempre tratada com desdém pela elite local e desprezada pelos negros pobres.

Estou no Twitter e no Instagram. Compre livros na Amazon e fortaleça o trabalho do blog! Confira a agenda de lançamentos

O longa, assim como a música e clipes do duo, usa de imagens provocativas e momentos que podem ser considerado nojentos para uma parcela razoável da população. Mas foi exatamente assim que, um determinado dia, eles saltaram de 300 visualizações em dois clipes para 300 mil em poucos dias no início dos anos 2010, quando o YouTube e os “virais” estavam engatinhando. O acerto do diretor em explorar essa estética faz do documentário algo fascinante e cheio de camadas emocionais, preenchidas com imagens e momentos, digamos, peculiares aos olhos mais conservadores.

Dois personagens são outros destaques do longa: o fotógrafo Roger Ballen, dono de um olhar especial para os desprezados e esquecidos pela sociedade e diretor de alguns dos clipes, e o DJ Hi-Tek (hoje HITEK5000), responsável pelos beats, batidas e produção de boa parte dos álbuns. O segundo tem uma história muito peculiar: escondido por trás de uma máscara, ninguém sabe quem ele é de verdade e já foi representado por várias pessoas ao longo dos anos nos clipes.

Veja também:
Crítica: Let's Get Lost, de Bruce Weber (1988)
Crítica: Karen Carpenter - Starving for Perfection, de Randy Martin
Crítica: Mutiny in Heaven - The Birthday Party, de Ian White
Crítica: DEVO, de Chris Smith
Crítica: The Beach Boys, de Frank Marshall
Crítica: Thank You, Goodnight - A História de Bon Jovi, de Gotham Chopra

A parte final reserva um considerável tempo para falar da crise conjugal e como, a despeito das amizades de famosos e sucesso, abalou a dupla e o casal, separado por algum tempo. O retorno só aconteceu após uma chantagem emocional pesadíssima da filha, abalada emocionalmente com os pais magoados e depressivos quando estavam longe um do outro. Tudo, claro, em uma estética experimental que ultrapassa todos os limites.

Nada convencional, “Zef – The Story Of Die Antwoord” usa bem os recursos visuais explorados pela dupla para contar essa história muito particular e muito maluca de como um casal de músicos falidos sul-africano virou um dos grandes fenômenos dos festivais dos últimos anos. A despeito dos problemas fora dos palcos, eles seguem firmes e fortes.

Avaliação: muito bom

Comentários