Crítica: St. Vincent - All Born Screaming

A caminhada de St. Vincent na música tem sido das mais interessantes de ser acompanhada ao explorar a guitarra o quanto pôde até ser considerada uma das melhores do instrumento recentemente. Mas foi a partir de “Masseduction” (2017) que começou a experimentar em um eletropop cheio de inspiração até chegar em “All Born Screaming”, novo álbum de estúdio lançado recentemente nos formatos físico e digital. Aqui, ela parte para o industrial sem dó, não sem antes aquecer os ouvintes.

O disco é apresentado com a balada melancólica “Hell Is Near”, cheia de efeitos e com destaque para o piano. É importante destacar o fato de ser a estreia da cantora na produção de um álbum próprio, então ela estava livre para experimentar o quanto pôde sem qualquer pressão ou palpite de terceiro ao se apoiar nos anos de experiência e no próprio trabalho. No embalo da abertura chega “Reckless”, essa mais sombria e sem refrão, quando o vocal é mais falado do que cantado. E já podemos ouvir um pouco do industrial na bateria e sintetizadores pesados.

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A cantora não tira o pé do acelerador nessa primeira parte e a sequência formada por “Broken Man” e “Flea” são importantes nisso. Fortes na medida certa, foram lançadas como os dois primeiros singles do álbum em uma pequena prova da conexão entre elas (“Drip you in diamonds, pour you in cream/ You will be minе for eternity/ Hair in my shears, fall at your feet/ You will bе mine, my everything”).

Mas é “Big Time Nothing” o grande momento do álbum, quando ela aposta alto nos sintetizadores e em diversos elementos incomuns num passado não tão distante assim em uma faixa contagiante do início ao fim (“I look inside, I look inside, I look inside/ Nothing/ I look inside, I look inside, I look inside/ Your eyes”). O ritmo diminui um pouco em “Violent Times”, comparada a vários temas da franquia James Bond pela grandiosidade, uso do naipe de metais e o tom dramático presente o tempo inteiro.

A metade final do álbum apresenta algumas das melhores canções da carreira de St. Vincent. Começando por “The Power's Out”, com uma linha de baixo absurda e refrão matador (“The power's out/ And no one can save us/ No one can blame us now/ 'Cause the power's out/ And no one can save us/ No one can blame us now/ 'Cause the power's out/ That's why I never came home”), passando pela homenagem para produtora de DJ Sophie em “Sweetest Fruit” até chegar na surpresa ao ouvir “So Many Planets”, um reggae que funciona bem.

A última canção é uma colaboração com Cate Le Bon que, segundo St. Vincent, ajudou na composição da faixa-título após ouvir a dificuldade que a amiga estava tendo. “Me dê cerveja, um baixo e três horas”, ela disse. Assim, saiu um ótimo encerramento, dominado pelos efeitos do sintetizador ao longo de quase sete minutos de duração e com direito a tom épico a partir da segunda metade.

Cada vez mais fundo nos próprios experimentos musicais. Anne Clark faz de St. Vincent um amplo projeto para mostrar ideias que deseja fazer naquele momento. “All Born Screaming” é inspirado e traz uma força incrível, colocando a cantora entre as melhores e mais inventivas dos últimos anos. É mais um álbum obrigatório da carreira dela.

Ficha técnica

Tracklist:

1 - “Hell Is Near”
2 - “Reckless”
3 - “Broken Man”
4 - “Flea” (fear. Dave Grohl)
5 - “Big Time Nothing”
6 - “Violent Times”
7 - “The Power's Out”
8 - “Sweetest Fruit”
9 - “So Many Planets”
10 - “All Born Screaming” (feat. Cate Le Bon)

Gravadora: Total Pleasure/ VMG
Produção: St. Vincent
Duração: 41min14

Avaliação: ótimo

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