Crítica: The Legacy of J Dilla, de Esther Dere e Christopher Frierson

Documentário assistido no In-Edit Brasil 2024, marcado para acontecer de 12 a 23/06 

O músico e produtor J Dilla viveu apenas 32 anos, mas deixou um imenso legado em pouco mais de uma década de carreira em álbuns importantíssimos para o rap e o hip-hop. Morto em 2006, em consequência de uma descoberta tardia de lúpus, ele tem a vida e obra contada através da família e amigos em “The Legacy of J Dilla”, dirigido por Esther Dere e Christopher Frierson.

Nascido James Dewitt Yancey, em Detroit, o garoto sempre foi um nerd curioso e logo que o amor pela música floresceu, demonstrou interesse em aparelhos de som. Não um interesse em simplesmente tê-los, mas desmontá-los e aprender a fazer a própria sonoridade com esses itens. Um toca-fita foi desmontado para ele aprender a aumentar e diminuir a velocidade, fazendo os próprios ‘samples’ de maneira manual. Disso para ser descoberto pela comunidade musical local foi um pulo. E disso para começar a trabalhar com os grandes foi um pulo gigantesco.

Ao longo dos anos 1990, ele trabalhou com gente do calibre de Janet Jackson, De La Soul, Busta Rhymes, A Tribe Called Quest e Q-Tip, o responsável por inseri-lo nesse meio e ajudá-lo a virar em um astro requisitado para produzir todas essas pessoas, além de fazer parte do coletivo musical Soulquarians. O talento dele era nato e muitos dos problemas de semanas ou meses de vários artistas eram resolvidos em minutos, sempre consequência do talento, inspiração e trabalho únicos.

Quando a falta de reconhecimento começou a pesar, passou a trabalhar sozinho e deixou de sair do estúdio caseiro. Quem quisesse, que fosse atrás dele. E eles foram. Dentre as parcerias mais bem-sucedidas, está com o rapper Common, como dito no longa, “feitos um para o outro”. E o que ninguém sabia era que ele, ao mesmo tempo, gravava diversos ‘beats’ e armazenava em milhares de fitas.

Os momentos finais de vida foram de muito trabalho e sofrimento físico, com uma grave infecção no sangue e problemas renais. Ainda assim, se manteve firme, no estúdio e nos palcos. J Dilla morreu três dias após o lançamento do álbum “Donuts”, considerado por amigos e especialistas o melhor da carreira solo e o melhor representante do estilo musical do produtor.

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Dere e Frierson ainda reservam espaço para falar dos problemas jurídicos causados pelo testamento do músico e de como as fitas gravadas, algumas dadas sem compromisso a amigos, viraram um imenso problema envolvendo uso dos direitos autorais em meio a uma disputa entre a administração do espólio e a família. No fim das contas, tudo acabou resolvido.

“The Legacy of J Dilla” usa dos recursos mais simples, apoiado por depoimentos importantes, para apresentar J Dilla a um público desconhecido sem deixar de agradar os fãs mais fervorosos do trabalho dele. O resultado é um trabalho acima da média para mostrar como a partida precoce dele deixou uma lacuna ainda não preenchida no hip-hop.

Avaliação: muito bom

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