Documentário assistido no In-Edit Brasil 2024, marcado para acontecer de 12 a 23/06
Um dos músicos de jazz mais famosos de todos os tempos, Chet Baker sempre teve tudo para ser um dos grandes: conseguia tocar qualquer música logo após ouvi-la, era bonito, tinha carisma e estava sempre acompanhado pelos grandes do gênero. Mas o envolvimento pesado com drogas, prisões, brigas e casamentos fracassados o levaram a morrer precocemente em 13 de maio de 1988, aos 58 anos. Quatro meses depois do trágico acontecimento, Bruce Weber lançou “Let's Get Lost”, documentário íntimo e em preto e branco sobre a vida e obra do trompetista.
Com acesso total a Baker ao longo de vários meses, Weber traça a história conturbada do músico com idas e vindas, com presente e passado se misturando a todo instante para marcar posição. Ele não era mais aquele rapaz com pouco mais de 25 anos da gravação de “Chet Baker Sings”, álbum em que cantou pela primeira vez e não parou mais, mas um simulacro de alguém perdido, sem áurea e em uma viagem muito própria durante as duas horas de filme.
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O diretor busca entender quem ele era e como se tornou essa pessoa de rosto marcado pelo tempo e aparentando muito mais do que os 56 anos, com depoimentos das ex-mulheres, da mãe, dos filhos e de quem trabalha ou trabalhou com ele. A genialidade musical é tratada como unanimidade por todos, já manipulação é salientada pelas ex-mulheres, o desaparecimento da vida dos filhos é tratado como algo normal e a mãe, quando perguntada se ele foi um bom filho, responde negativamente e não se estende no assunto. As drogas são outro tema recorrente, motivo da condenação por um ano e meio na Itália duas décadas antes. E quando perguntado qual a preferida, responde sem pestanejar: “speed” - mistura de cocaína com heroína.
Veja também:
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Crítica: Mutiny in Heaven - The Birthday Party, de Ian White
Crítica: DEVO, de Chris Smith
Crítica: The Beach Boys, de Frank Marshall
Crítica: Thank You, Goodnight - A História de Bon Jovi, de Gotham Chopra
Crítica: The Beatles - Let It Be, de Michael Lindsay-Hogg
Histórias deliciosas são contadas e trechos de filmes estrelados por Baker são mostrados, enquanto ele se dedica a trabalhar em mais uma gravação. É quase impossível não ser conquistado pelo carisma e pelo domínio dele do ambiente. É como se apenas a voz dele fosse ouvida e, em certa medida, respeitada. Quando Weber o convida para ir para o Festival de Cannes e acompanhá-lo na exibição do documentário “Broken Noses”, o músico consegue alguns shows. Insatisfeito com as conversas paralelas, na apresentação seguinte, pede silêncio. Se uma agulha caísse no chão naquele momento, daria para ouvir. O último momento dele no filme traz um sorriso com a nostalgia dos melhores momentos da vida e sofrimento com a abstinência de drogas.
Remasterizado em 4K, o documentário mostra os sucessos de um músico talentoso e ator com potencial, e as agonias de um homem problemático e irritante para quem conviveu com ele. Sem separar um do outro, Baker demonstrava na pele esse tormento de anos e anos de vícios descontrolados, sempre pulando de galho em galho, aparecendo e sumindo na mesma velocidade. Com uma trilha sonora de primeira, “Let's Get Lost” é uma despedida melancólica e bonita na mesma medida.
Avaliação: ótimo
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