Crítica: Neil Young & Crazy Horse - Fuckin' Up

Neil Young é um artista muito incisivo no que quis praticamente desde sempre. Apesar de ter discos recusados por gravadoras em determinados períodos da carreira, ele sempre conseguiu gravar as músicas que desejava do jeito que queria. Agora, com mais de 60 anos de carreira nas costas, lança o quer, do jeito que quer e como quer. A mais nova empreitada é a gravação ao vivo do álbum “Ragged Glory”, de 1990, chamado de “álbum grunge” por ser inspirado na nova geração de bandas que estava surgindo.

Mais de três décadas depois, o trabalho ganha uma versão ao vivo chamada “Fuckin' Up”, gravada no final de 2023 e disponibilizada nos formatos físico e digital recentemente. Com apenas “Mother Earth (Natural Anthem)” de fora, o álbum mostra como as faixas são muito poderosas ao vivo, com Young e a Crazy Horse melhores do que nunca, como nas longas partes instrumentais de “City Life” ou no ótimo refrão da curta “Feels Like a Railroad (River of Pride)” (“And I'm rolling down the open road/ Where the daylight will soon be breaking/ Right now I'm thinking about these things that I know/ But it's good time that we've been making”).

Veja também:
Duas críticas: Girl in Red e Faye Webster
Crítica: Taylor Swift - The Tortured Poets Department
Crítica: Pearl Jam - Dark Matter
Crítica: Adrianne Lenker - Bright Future
Crítica: METZ - Up on Gravity Hill
Crítica: Vampire Weekend - Only God Was Above Us

Estou no Twitter e no Instagram. Compre livros na Amazon e fortaleça o trabalho do blog! Confira a agenda de lançamentos

Em “Heart of Steel”, o guitarrista e a banda começam uma longa viagem de improvisos que só termina após os mais de nove minutos de “Broken Circle”. São quase 15 minutos do mais puro rock, feito por alguém poderia estar em casa vivendo apenas dos próprios relançamentos e álbuns de estúdio sem colocar o pé para fora de casa. Mas Young ainda insiste em juntar os amigos para tocar, apesar dos pesares do mundo.

A sensibilidade em fazer de “Valley of Hearts” um depoimento melancólico sobre o amor faz dela uma das melhores interpretações desse disco ao vivo ao longo de quase 13 minutos de duração (“You've got love to burn/ You better take a chance on love/ You gotta let your guard down/ You better take a chance/ A chance on love/ Take chance on love/ On love/ On love”). E na única faixa com o nome original mantido, o cover de “Farmer John” ganha um tom quase de cabaré pelo estilo do vocal e uso do piano bem ao fundo.

Uma das melhores coisas a longa parceria de Young com a Crazy Horse é o apoio vocal, como em “Walkin' in My Place (Road of Tears)”, quando o conjunto de vozes coloca uma carga dramática na letra que faz toda diferença na audição. E se “To Follow One's Own Dream” apela para a mensagem hippie sobre amor no refrão (“Love and only love will endure/ Hate is everything you think it is/ Love and only love will break it down/ Love and only love will break it down/ Break it down/ Break it down”), os 15 minutos finais de “A Chance on Love” são uma mostra de todo talento deles juntos e de como o destino acertou precisamente ao colocá-los em contato para fazer história na música.

Os mais de 60 minutos de duração do trabalho passam voando, com ajuda de um ótimo repertório retrabalhado para funcionar ainda melhor ao vivo. Aos 78 anos, Young continua empenhado a fazer música de um jeito único e mostra ao mundo que seguir insistindo é o melhor que ele e outros da mesma idade podem fazer por aquilo que amam e os transformaram em quem são.

Ficha técnica

Tracklist:

1 - “City Life”
2 - “Feels Like a Railroad (River of Pride)”
3 - “Heart of Steel”
4 - “Broken Circle”
5 - “Valley of Hearts”
6 - “Farmer John”
7 - “Walkin' in My Place (Road of Tears)”
8 - “To Follow One's Own Dream”
9 - “A Chance on Love”

Gravadora: Reprise
Produção: Neil Young e Niko Bolas
Duração: 64min33

Avaliação: ótimo

Comentários