Crítica: The Jesus and Mary Chain - Glasgow Eyes

Uma das maiores e melhores bandas da história do rock alternativo britânico, o Jesus and Mary Chain teve uma grande produção de álbuns do início dos anos 1980 até o final da década seguinte, quando desavenças dos irmãos Reid — Jim e William — fizeram o grupo encerrar as atividades em 1999. Olhando em retrospectiva, pouquíssimas pessoas colocavam qualquer fé em um retorno. Famosos por “Psychocandy”, de 1985, e “Darklands”, de 1987, o grupo soava mais algo do passado do que qualquer outra coisa. Até que um improvável retorno aconteceu em 2007.

Desde o famoso show do Coachella, naquele mesmo ano, exista uma expectativa de um novo disco de inéditas, alimentada pelos irmãos ao longo dos anos. O tal álbum, “Damage and Joy”, só saiu em 2017. Bem recebido, parecia uma satisfação dada aos fãs e críticos, mas havia mais por vir. Sete anos depois, eles lançam o segundo trabalho desse retorno, chamado “Glasgow Eyes’, o oitavo da carreira.

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O sintetizador a pleno vapor é o fio condutor da agitada “Venal Joy”, um verdadeiro retorno às origens da banda, com os irmãos Reid tomando conta de todo processo de composição e gravação do início ao fim. E eles aproveitam para tirar um sarro dos americanos em “American Born”, de andamento lento e uns gemidos estranhos.

O disco é desses que vai te conquistando gradualmente, música a música, com eles dando uma visão de fora sobre o mundo e em momentos muito pessoais, de pura conexão com o ouvinte. Com mais de 40 anos na música e na estradas pelo mundo, eles têm muito a ensinar na etérea “Mediterranean X Film” e nas dançantes “Jamcod”, essa sobre a separação da banda no final dos anos 1990, e a grudenta “Discotheque” (“Lost in music, lost in trance/ Idiotic happy dance/ Lights and amps and record decks/ Welcome to my discotheque”), uma boa tirada de sarro do gênero musical que dominou as paradas por um longo tempo.

“Pure Poor” traz uma “esquisitice”, um lado experimental ótimo de ouvir vindo de uma banda tão famosa, já “The Eagles and the Beatles” tem uma introdução parecida com “I Love Rock and Roll”, de Joan Jett, para os irmãos contarem um pouco sobre a própria infância e adolescência musical em referências e gostos (“I've been rolling with the stones/ Mick and Keith and Brian Jones/ Bill and Charlie have gone home/ And I've been rolling with the stones”). E “Silver Strings” e “Chemical Animal” os trazem explorando o shoegaze, em um clima pesado graças aos efeitos do sintetizador.

O álbum encaminha para o final na balada autobiográfica com toques indianos “Second of June” (“What you said/ All my friends are there/ Mother, can you hear me calling you?”), na dançante “Girl 71” e encerra com “Hey Lou Reid”, uma espécie de piada interna de ar experimental dos anos 1970.

“Glasgow Eyes” é uma grata surpresa não apenas por evocar o passado em vários momentos, como por mostrar certo frescor e empolgação — é visível que os irmãos estão se divertindo com cada música e cada momento pontuado por um instrumento estranho ou não. Música também deveria ser sobre a alegria de entrar em um estúdio e fazer o melhor trabalho possível. Aqui, o Jesus and Mary Chain faz isso.

Tracklist:

1 - “Venal Joy”
2 - “American Born”
3 - “Mediterranean X Film”
4 - “Jamcod”
5 - “Discotheque”
6 - “Pure Poor”
7 - “The Eagles and the Beatles”
8 - “Silver Strings”
9 - “Chemical Animal”
10 - “Second of June”
11 - “Girl 71”
12 - “Hey Lou Reid”

Avaliação: ótimo

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