Crítica: The Smile - Wall of Eyes

Todos os integrantes do Radiohead concordaram em tirar um tempo da banda para outras atividades na música. Cada um do seu jeito, com repercussão maior ou menor, foram bem sucedidos nesse período, mas é difícil não colocar Thom Yorke e Jonny Greenwood acima dos outros fundarem o Smile ao lado do baterista Tom Skinner. O sucesso de “A Light for Attracting Attention” e da turnê de divulgação do álbum de estreia fez o trio prometer um segundo disco. Promessa feita, promessa cumprida com “Wall of Eyes”.

A faixa-título abre o trabalho com uma pegada bossa nova surpreendente por parte do trio e mantendo aquele lado experimental do grosso do trabalho. Parte da letra vem de sobras do Radiohead não finalizadas por Yorke para o álbum “The King of Limbs”, transformadas nesse início bem promissor. A etérea “Teleharmonic” mostra como o uso dos sintetizadores por parte do trio é algo natural e a construção de “Read the Room”, com destaque para o refrão (“Who knows what it wants from me?/ This goes where it wants to be/ Honey for the honey bee/ But I am gonna count to three/ Keep this shit away from me”), a transforma em uma das melhores faixas do repertório do trio até agora.

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Uma das qualidades do Smile é saber preencher os espaços com partes musicais que fazem sentido. Também é por isso da duração do álbum ter mais de 45 minutos, porque eles experimentam a vontade até conseguir alguma coisa. “Under our Pillows” cabe nesse exemplo: tem pouca letra e uma enorme parte instrumental, a deixando com mais de seis minutos. Mas não é enfadonho, uma qualidade e tanto em quem gosta de fazer esse tipo de improviso. E é na melancólica “Friend of a Friend”, escrita por Yorke durante a pandemia, que ouvimos uma inspiração do jazz com um teor pop e, com um bonito arranjo de cordas, o trio apresenta a melhor canção do álbum (“From our window balconies we take a tumble as our/ Friends step out to talk and wave and catch a piece of sun”).

Em “I Quit”, a participação da London Contemporary Orchestra é maior e ainda mais presente com as cordas. Combinadas com os sintetizadores, a canção nasce para brilhar nas apresentações pela união desses dois elementos tão distintos e tão feitos um para o outro ao longo das décadas. Com mais de oito minutos de duração, “Bending Hectic” traz uma dificuldade enorme em não admirar a beleza do trabalho de composição e parceria do trio ao apresentar cada momento da música com a paciência de um monge. A faixa, tranquila, apresenta um arranjo suave até o momento “Rocky Horror Picture Show”, quando tudo explode e vira uma grande improvisação sonora cheia de guitarras, overdubs, sintetizadores e tudo mais que eles tinham disponíveis no estúdio.

A balada no piano “You Know Me!” encerra o segundo álbum de estúdio do Smile com a certeza de ser um dos melhores projetos musicais dos últimos anos. Muitas pessoas preferem chamar de filho do Radiohead. Prefiro usar o termo irmão mais novo, alguém diferente, vislumbrando um mundo de possibilidades já vistas e contadas pelo mais velho. Mais ousado e diferente, “Wall of Eyes” é a prova que a tranquilidade pode tirar a pressão e trazer prazer na hora de escrever músicas. O trio acerta mais uma vez e faz do segundo álbum de estúdio tão bom quanto o primeiro.

Tracklist:

1 - “Wall of Eyes”
2 - “Teleharmonic”
3 - “Read the Room”
4 - “Under our Pillows”
5 - “Friend of a Friend”
6 - “I Quit”
7 - “Bending Hectic”
8 - “You Know Me!”

Avaliação: ótimo

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