Crítica: Peter Gabriel - I/O

Peter Gabriel é desses músicos que dispensa apresentações. Primeiramente conhecido como vocalista do Genesis, deixou a banda para uma bem-sucedida carreira solo ao longo dos 50 anos seguintes. Ao entrar no século XXI, simplesmente optou por diminuir o ritmo da carreira e passou a trabalhar em poucas coisas — os últimos lançamentos haviam sido um álbum de covers, chamado “Scratch My back”, e a regravação de sucessos da carreira em versões orquestradas, “New Blood”, em 2011.

Neste momento, poucas pessoas esperavam um trabalho de inéditas vindo dele, que prometia o lançamento de “I/O” desde 2002, com músicas sendo trabalhadas 1995, um “Chinese Democracy” do art rock. Ninguém achava que o disco seria lançado. E não só foi, na última sexta-feira (1), como todas as faixas foram singles ao longo de todo ano. Ele ainda surpreendeu os fãs e críticos ao disponibilizar duas mixagens do trabalho, Bright-Side e Dark Side, totalizando quase duas horas e vinte minutos de música.

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Após anos lançando discos e músicas de estrutura complexas, Gabriel faz do disco um retorno ao pop simples de arranjos sofisticados, uma das principais marcas da carreira solo. Pegando “Live and Let Live”, última faixa das duas mixagens, é possível ouvir com clareza o carinho e a dedicação dele em conseguir encontrar o melhor caminho para a faixa. Em detalhes, ouvidos com clareza em uma versão de alta qualidade e fones de ouvido de bom nível, Gabriel prova como é possível mudar o tom com ajustes sutis, mas fundamentais para compreensão geral dos temas.

Outro destaque é “Road to Joy”, canção composta em parceria com Brian Eno, companheiro de longas jornadas e colaborador em várias músicas do trabalho. Na primeira, começa experimental, mas o teor pop surge assim que o vocal aparece e encaminha o ouvinte para um refrão grudento, sem dever nada a nenhuma música atual. Já a outra mixagem tem um início mais sombrio e um tom muito mais sóbrio, mesmo no refrão, fazendo toda diferença entre as duas.

O décimo álbum de estúdio da carreira solo de Peter Gabriel é dessas aulas para quem gosta de música e de produção, porque mostra caminhos diferentes para as mesmas faixas. Disponibilizar isso ao público é um merecido presente pela demora em lançá-lo, fruto de um perfeccionismo que poucos têm na música pop atual. Valeu muito a pena esperar por “I/O”.

Tracklist:

1 - "Panopticom"
2 - "The Court"
3 - "Playing for Time"
4 - "I/O"
5 - "Four Kinds of Horses"
6 - "Road to Joy"    
7 - "So Much"
8 - "Olive Tree"
9 - "Love Can Heal"
10 - "This Is Home"
11 - "And Still"
12 - "Live and Let Live"

Avaliação: ótimo

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