Crítica: Sleater-Kinney - Little Rope

Agora uma dupla formada por Corin Tucker e Carrie Brownstein, era possível imaginar que um futuro disco das Sleater-Kinney iria demorar. Após retornar em 2015 depois de uma década sem trabalhos novos, pisar no freio e aproveitar um pouco esse frescor de conseguir atrair velhos fãs e ainda ganhar novos, seria um movimento bastante natural para quem está bem posicionada como atração de festivais pelos Estados Unidos e no resto do mundo. Mas elas seguem com um gás imenso. 

Elas disponibilizaram recentemente “Little Rope”, o 11º disco da carreira, que tem a perda como a temática principal. Primeiro começando com a melancólica “Hell”, uma faixa de refrão bem sombrio (“You ask/ Why like there's no tomorrow/ You ask/ Why like there’s no tomorrow”). O clima esquenta um pouco na mensagem de “Needlessly Wild”, quando elas mostram que a terceira década dos anos 2000 é dominada pelas mulheres tocando guitarra, uma ótima notícia para elas que chegaram quando isso não era nada valorizado. 

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Candidata a uma das melhores músicas do ano, “Say It Like You Mean It” tem tudo que uma canção grudenta pode ter: um refrão de primeira, vocal inspirado e valorização da qualidade da banda por parte da produção. E ainda tem na letra uma declaração profunda sobre a obrigação de dar adeus a quem você ama ou amou um dia (“Say it, say it like you mean it/ I need to hеar it before you go/ Say it, say it like you mean it/ This goodbye hurts when you go”). Só mesmo a honestidade de uma certa idade pode trazer a capacidade e a sensibilidade em conseguir escrever algo assim.

O trabalho continua com o grande apelo da guitarra de uma canção de tom bem sombrio (“Hunt You Down”), no amor pelo instrumento, na inspiração por Television e Sonic Youth (“Small Finds”) e o pop também não poderia faltar ao falar de coração partido em uma letra que Tom Petty ficaria orgulhoso (“Don't Feel Right”). Recuperar a identidade com o envelhecimento, ainda mais sendo mulher, faz de “Six Mistakes”, com destaque para bateria de Angie Boylan, quase uma autobiografia das duas integrantes fixas — com 51 e 49 anos, respectivamente.

O uso do sintetizador apresenta “Crusader”, canção com a missão de fazer uma amostragem do todo, um olhar para uma inevitável situação triste, mas sempre com a chance de sair maior e melhor. Mais um destaque do álbum, “Dress Yourself” é suave do início ao fim, um tratado sobre como encarar o dia a dia é algo a ser celebrado em tempos de estafa mental e pressão por todos os lados. O disco encerra com o grito “Untidy Creature”, um pedido de socorro para impedir a perda de direitos das mulheres nos Estados Unidos em um enorme retrocesso após 50 anos de conquistas.

Os primeiros dias do ano trazem as Sleater-Kinney como candidatas a melhor disco do ano. “Little Rope” traz uma espécie de autobiografia das duas, com idade suficiente para entrar naquele período em que você mais perde amigos do que faz. Com um repertório forte do início ao fim, o trabalho está na prateleira dos melhores da carreira da banda. Em 2024, não tem como negar: isso é incrível. 

Tracklist: 

1 - “Hell”
2 - “Needlessly Wild”
3 - “Say It Like You Mean It”
4 - “Hunt You Down”
5 - “Small Finds”
6 - “Don't Feel Right”
7 - “Six Mistakes”
8 - “Crusader”
9 - “Dress Yourself”
10 - “Untidy Creature” 

Avaliação: ótimo

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