Crítica: Dave Grohl - O Contador de Histórias: Memórias de vida e música

Você pode até não gostar de Nirvana ou do Foo Fighters, mas admita: você gosta, nem que seja um pouco, de Dave Grohl. Músico feito apenas na força de vontade, formou com Kurt Cobain e Krist Novoselic um trio marcado para sempre na história da música. Depois, com a morte de Cobain, entrou de cabeça em um projeto para chamar de seu, o Foo Fighters, e o transformou em uma das grandes bandas dos últimos 30 anos.

Durante a pandemia, sem nada para fazer, decidiu contar essas e outras histórias em "O Contador de Histórias - Memórias de vida e música", lançado no Brasil pela editora Intrínseca com tradução de Alexandre Raposo e Jaime Biaggio. Diferentemente de outras autobiografias, Grohl escolheu algumas das melhores histórias para refletir sobre si, a importância da família e da música e como ele grato — e se considera um sortudo — por conhecer tanta gente importante e os próprios ídolos ao longo dos anos. 

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Uma das vantagens do livro é a conexão que o vocalista faz entre as histórias, momentos diferentes culminados em outras coisas no futuro. Escrito antes das mortes de Taylor Hawkins e da mãe, Virginia, o homenageado é Jimmy, amigo de infância já morto, que esteve nos bons e maus momentos, um ombro amigo para tomar uma cerveja e conversar sobre o passado e planos futuros.

Grohl não economiza em abrir o jogo para os fãs o impacto da morte de Cobain na vida e como o convite para ser o baterista dos Heartbreakers, banda de Tom Petty, o balançou profundamente. Ao decidir ir em frente e ser o vocalista de uma banda ainda sem integrantes, sabia estar pulando de um avião com um paraquedas muito frágil. As comparações seriam inevitáveis, mas ele aguentou firme, mesmo nas piores crises — a debandada de integrantes no início dos anos 2000 quase o levou a acabar com o Foo Fighters.

O lado pai não é deixado de fora, sendo um bate e volta da Austrália aos Estados Unidos para estar no baile das filhas é o grande destaque do livro. Fazer uma viagem de mais de 16 mil quilômetros para estar em casa por algumas horas é dessas coisas que as filhas dele jamais vão esquecer. E, claro, ele conta histórias engraçadíssimas sobre os períodos de dureza, quando dormia em vans nos primeiros dias como baterista do Scream, aos 17 anos, quando abandonou a escola com anuência da mãe — "espero que você seja bom", ela disse — e decepção do pai conservador e funcionário público em Washington, capital dos Estados Unidos.

"O Contador de Histórias - Memórias de vida e música" é um das biografias mais legais e divertidas que li nos últimos anos. Equilibrado na medida certa, o livro ajuda a entender como Grohl transformou o Foo Fighters, e a si, em algo gigantesco e, atualmente, único na música mundial (uma banda de rock que lota estádios pelo mundo em longas turnês). É desses livros para ler em dois, três dias de tão fluido. O pequeno David, aquele que descobriu o punk em uma viagem de férias para Chicago, está orgulhoso do trabalho feito pela versão adulta. Entre erros e acertos, o resultado, até o momento, é muito positivo.

Avaliação: excelente

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