Resenha: Alta Fidelidade, de Nick Hornby

Rob Gordon é dono de uma loja de discos na Inglaterra, a Championship Vinyl, e, aos 35 anos, precisa lidar com um pé na bunda causado pelos próprias decisões nos últimos meses, com dois amigos/funcionários considerados estranhos para o padrão normalizado pela sociedade e com a própria frustração em não ter atingido as expectativas estabelecidas por ele e pelos outros ao longo da vida. Essa é a história de "Alta Fidelidade", romance de Nick Hornby. Lançado em 1995, o livro é um dos grandes sucessos da carreira do escritor e, no momento, está disponível pela Companhia das Letras com tradução de Christian Schwartz.

Desmotivado e irritado, certo dia, Gordon lista um top 5 de foras levados ao longo da vida. A intenção era excluir Laura, a mulher que o abandonou para ficar com o vizinho do apartamento de cima, um tal de Ian. Mas, claro, isso é impossível. O impacto dela na vida dele é enorme e, ao longo da leitura, descobrimos que ele foi um canalha, desalmado, sem escrúpulos e egoísta.

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A partir desse momento, antes de descobrirmos que ele foi um canalha, desalmado, sem escrúpulos e egoísta, Rob quer saber, de uma por uma, os motivos dos términos. Assim, embarcamos nessa jornada rumo ao desconhecido, guiados por quase 30 anos de traumas e músicas que os transformaram nesse homem de ótimo gosto para mulheres e álbuns.

Um dos méritos de Hornby é envolver o leitor nessa busca quase sem sentido se olharmos de fora, mas certeira quando pensamos nos nossos próprios foras e como esse período solitário e sem perspectiva afeta os neurônios da inteligência e liga os neurônios da estupidez. Gordon fala com uma por uma e busca por respostas, mesmo as mais doloridas. E ainda conhece uma linda cantora norte-americana com quem pode dividir a tristeza e os lençóis.

Tudo isso acontece embalado por muitas listas sobre os mais diversos assuntos, a maioria delas sobre música com subtemas cada vez mais esdrúxulos para seres humanos "normais" e totalmente compreensíveis para quem trata o assunto muito acima de "é só uma canção", "é só um disco" ou "é só uma lista" - nunca é só uma canção, nunca é só um disco e nunca é só uma lista; a ordem de cada música, os motivos de ocupar aquela posição e a indefinição até o último segundo são quase uma questão de vida ou morte para quem se importa (quem não se importa nem deveria existir).

Lê-lo pela primeira vez aos 35 anos é entender as motivações por trás disso, principalmente na mágoa transformada em decisões pouco inteligentes. O final é ótimo porque o personagem entende um pouco melhor a vida e para de ambicionar o impossível, tentando viver mais o presente para fazer o que gosta, ainda que precise de um empurrão de quem mais ama.

Avaliação: ótimo

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