Crítica: Transformer - A História Completa de Lou Reed, de Victor Bockris

Lou Reed foi um dos melhores compositores da música pop dos Estados Unidos no século XX. Poucas pessoas souberam como contar histórias sobre os mais diversos assuntos, do amor mais inocente e profundo por alguém até o vício em drogas pesadas, como ele. Ao longo dos anos, Reed se tornou um personagem excêntrico e fascinante ao ponto de vários livros terem sido lançados sobre ele, o Velvet Underground e toda cena de rock nova-iorquino dos anos 1960.

Em 1995, o escritor Victor Bockris lançou a primeira edição de "Transformer - A História Completa de Lou Reed" que, no Brasil, ganhou uma edição atualizada pela Editora Aleph com tradução de Bruno Federowski e Marcia Men, lançada em 2016, já contemplando os anos seguintes e incluindo a morte do músico, em 2013. 

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Bockris usa de fontes primárias, pessoas que conviveram com Reed e uma ótima apuração para contar a história de um personagem fascinante, de nível intelectual alto, ao mesmo tempo em que dava ataques de narcisismo, sempre optava pelo confronto e tinha mania de controle em tudo que estivesse envolvido. A história já começa com ele, ainda adolescente, frequentando sessões de choques por ter "trejeitos afeminados" — aliás, isso seria uma tônica e parte fundamental da persona dele até meados dos anos 1970, principalmente para provocar as namoradas.

O jovem Lewis entrou na faculdade com intenção de ser escritor e lá uniu os dois amores: a escrita e a música. Quando se formou, partiu para Nova York para se afastar dos pais, pessoas ótimas que sempre o amaram e deram tudo que ele queria, em busca do sonho de ter uma banda de rock. Por meio de gente em comum, conheceu John Cale. Começava o embrião do Velvet Underground, futuramente apadrinhado pelo artista plástico Andy Warhol, que contou com o guitarrista Sterling Morrison e a baterista Maureen Tucker na formação mais conhecida. Como muita gente sabe, o Velvet vendeu poucos álbuns, mas influenciou duas gerações de adolescentes que acabaram formando bandas famosas ao longo dos anos.

O autor consegue construir os caminhos que levaram Reed a ser famoso em determinados círculos sem nunca fazer grande sucesso e ter o esperado reconhecimento, coisas que o afetaram profundamente ao longo dos anos ao se questionar por que Bob Dylan recebia tantas homenagens e prêmios, e ele não? O período entre meados dos anos 1960 até o final dos anos 1970 é delicioso e consegue colocar o leitor dentro daquele mundo louco de uma Nova York destruída, mas com uma cena musical incrível pelos olhos de um Reed que duelava diariamente com o médico e o monstro internos. Aquela época trouxe o fim da banda, uma pausa forçada, a parceria e problemas com David Bowie no início da carreira solo, o disco "Transformer" e o sucesso do glam rock.

Inevitavelmente, dois assuntos surgem aos montes: vício em drogas e álcool e os relacionamentos de Reed. Controlador, ele manipulava mulheres e as humilhava constantemente. A única que não passou por isso foi Rachel, uma mulher-trans cujo relacionamento durou três anos e inspirou o álbum "Coney Island Baby", de 1975. Já as drogas e o álcool foram uma constante por muitos e muitos anos, levando a cancelamento de shows, instabilidade emocional, brigas e fins dolorosos de relacionamentos com pessoas que realmente gostavam dele.

A partir dos anos 1980, ele passou a ter mais reconhecimento e, finalmente, começou a ganhar dinheiro ao longo dos anos seguintes, com direito às pazes com Cale e um álbum em homenagem a Warhol, chamado "Songs For Drella". E um tumultuado retorno do Velvet Underground nos anos 1990, gerando uma briga com todos os outros integrantes novamente.

A parte final do livro, com os últimos momentos da carreira de Reed, é inferior ao resto, mais corrida e traz o autor mais opinativo do que antes ao exaltar o relacionamento com Laurie Anderson e o último álbum do compositor, chamado "Lulu", lançado em uma colaboração com o Metallica, em 2011. Mas isso não tira o mérito do resto do trabalho.

"Transformer - A História Completa de Lou Reed" apresenta um cantor nu e cru, com todos os defeitos e qualidades que o fizeram ser essa pessoa admirada por milhões de fãs e odiado por outros ao longo dos anos. Sem passar pano, Bockris chega ao mais próximo da verdade em um livro importante para conhecer não só Reed, mas parte de uma história importante da música que influenciou muito dos nossos ídolos atuais.

Avaliação: muito bom

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