Crítica: Bono - Surrender: 40 Músicas, Uma História

Dificilmente um ser humano com mais de 30 anos não sabe quem é Paul David Hewson, mundialmente conhecido como Bono, vocalista do U2. Ao longo dos anos, além do trabalho com os companheiros e amigos da infância The Edge, Adam Clayton e Larry Mullen Jr., ele também ficou conhecido pelo ativismo ao lado de outras personalidades. São essas duas facetas que ele conta em "Surrender: 40 Músicas, Uma História", lançado no Brasil pela Intrínseca com tradução de Rogerio W. Galindo.

Usando como ponto de partida 40 músicas que ele escreveu ao longo da carreira, Bono faz da própria história uma jornada recheada de poesia, bonitas palavras e uma tendência a ser quase um santo que serve para poucos. Em resumo: ele não foi ficando chato, ele é um chato profissional desde sempre. Ao gastar quase 80 páginas para falar de como ele convenceu o ex-presidente George W. Bush a combater a AIDS e a perdoar a dívida externa dos países pobres, enquanto dedica muito menos para falar do álbum "The Joshua Tree", é possível perceber logo de cara qual vida ele gosta de exibir aos outros. 

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Mas, caso você não largue a leitura no meio, é possível compreender muitas coisas sobre Bono e a formação do U2 em si. Filhos de classe trabalhadora, os integrantes cresceram em meio às tensões entre as Irlandas, sem saber se sairiam de casa e voltariam vivos. Com o vocalista e The Edge religiosos e parte da Renovação Carismática e do Shalom, o messianismo das letras e o uso da Bíblia nunca foi para ganhar público, mas apenas eram ferramentas de expressão de uma vida sem perspectiva que mudaria completamente com a música. No final dos anos 1980, o quarteto seria a maior banda do mundo.

Outro ponto importante sobre eles é o fato do constante interesse em crescer musicalmente. Sempre buscando novas coisas, novas tecnologias, novas batidas e novos jeitos de transmitir a mensagem que queriam enviar ao mundo em turnês grandiosas ou canções épicas. Hoje, estar em uma residência em Las Vegas não é estranho, mas uma consequência natural dessa busca desde sempre. Nesse momento, também é possível conhecer um pouco dos bastidores da banda e como eles, com algumas brigas, se mantiveram unidos e ainda morando na Irlanda, fugindo da loucura de morar em Nova York ou Los Angeles.

Entre celebridades, políticos famosos e muito trabalho dentro e fora da música, os altos e baixos do U2 são na conta de Bono. Ao usar a banda para passar uma mensagem, ele acerta por vislumbrar alguma esperança; ao negligenciar a música em pró de outras coisas, mostra que a tendência do ego é sempre vencer — no caso dele, muito mais de uma vez. O ponto positivo do trabalho acaba sendo as primeiras páginas, quando conhecemos a infância dele e o impacto da morte da mãe até hoje em tudo que ele faz.

Se você espera conhecer mais sobre a música do U2 em "Surrender: 40 Músicas, Uma História", pode esquecer. Mais fácil esperar a autobiografia do The Edge. Mas se você quiser compreender quem é Bono e as motivações que o levaram a fazer o que ele fez dentro e fora dos palcos, esse livro é para você.

Avaliação: bom

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