Crítica: Wilco - Cousin

Recomeçar nunca é fácil porque exige uma série de coisas que, muitas vezes, não estamos prontos para fazer, dar, ou entregar. Recomeçar significa, muitas vezes, abrir mão de coisas e pessoas para simplesmente colocar o carro da vida em posição de largada novamente. E muitas vezes, dá errado e o vendaval da frustração é inevitável. Quando se é artista, a margem para errar é ainda menor por conta do julgamento público constante.

Por isso, a decisão do Wilco em entregar a produção de "Cousin", 13° álbum de estúdio da carreira, para Cate Le Bon foi corajosa e uma maneira de recomeçar sem perder a identidade jamais. Ter uma cabeça fresca no estúdio, uma pessoa de fora e uma opinião nada enviesada sobre os processos pode funcionar — e, nesse caso em especial, funcionou muito bem.

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Diferentemente dos discos anteriores, o Wilco aposta em uma abordagem mais experimental e menos country rock, apesar de ainda estar lá. As guitarras estão lá, o estilo de bateria está lá, o baixo está lá, o vocal está lá. Tudo está no lugar. Ainda é a banda que aprendemos a admirar e gostar ao longo dos últimos dez, 15, 20 anos. Mas algo soa diferente, como se eles tivessem tomado uma curva ao invés de seguir em linha reta.

Como bem diz a letra de "Infinite Surprise", foi realmente uma surpresa ao ver como a faixa ganhou um andamento surpreendente na parte final. Isso mostra uma banda ainda criativamente um tanto inquieta após tantos anos. E isso também mostra como eles estavam abertos a coisas novas, e Le Bon estava pronta para mostrar a existência de outros caminhos para a música que não os mesmos de sempre.

O álbum caminha nesse lado experimental, beirando o progressivo em algumas vezes, com a banda levando calmamente o ouvinte nessa jornada de quase 30 anos, com os integrantes beirando os 60. O olhar para o mundo é diferente; é mais experiente, menos afobado. Em "Cousin", esse olhar é transformado em melodias suaves e calmas, como se eles estivessem prontos para pegar na mão do ouvinte e guiá-lo ao longo dos quase 43 minutos de duração do álbum — "A Bowl and a Pudding" é um ótimo exemplo.

É difícil não gostar das assobiáveis "Evicted" e "Cousin", da identificável "Sunlight Ends" ("You dance/ Like the dust in the light/ Where the sun comes in/ And I'm following/ Until the sunlight ends"), do refrão instrumental de "Pittsburgh" e o clássico Wilco no encerramento "Meant to Be".

A curva musical que o Wilco fez gerou bons frutos, muito pela vontade de todos em fazer tudo funcionar e dar certo. Posso estar errado, mas é bem possível que "Cousin" seja um potencial clássico do grupo em uma década. Como diria aquela jornalista, só o tempo dirá.

Tracklist:

1 - "Infinite Surprise"
2 - "Ten Dead"
3 - "Levee"
4 - "Evicted"
5 - "Sunlight Ends"
6 - "A Bowl and a Pudding"
7 - "Cousin"
8 - "Pittsburgh"
9 - "Soldier Child"
10 - "Meant to Be"

Avaliação: ótimo

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