Resenha: Se Estas Paredes Cantassem, de Mary McCartney

O Abbey Road Studios faz parte da cultura pop mundial e, ao longo de mais de 90 anos de existência, abrigou músicos dos mais diversos tipos e acabou entrando para história ao inspirar o nome do último álbum de estúdio gravado pelos Beatles. É essa história que Mary McCartney, filha de Paul, conta em "Se Estas Paredes Cantassem", disponível no Disney+.

O primeiro trabalho de direção da fotógrafa começa pelo básico ao contar a história da fundação do estúdio e como, nos primeiros anos após a Segunda Guerra Mundial, a EMI, dona do lugar, precisou se adaptar aos novos tempos e encontrar novos artistas para gravar e lançar. Afinal, era impossível viver apenas de música clássica. Um dos primeiros nomes de sucesso da música jovem a gravar lá foi Cliff Richard, de sucesso histórico numa era pré-Beatles.

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Mas, evidentemente, uma parte considerável do longa é ocupado pela passagem dos Beatles no local. Com Gilles Martin, filho do produtor George Martin e responsável pelas remasterizações recentes da discografia da banda, servindo de guia, Paul McCartney e Ringo Starr contam algumas das histórias do período 100% dedicado às gravações em estúdio, com destaque para a produção de dois discos: "Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band", de 1966, e "Abbey Road", de 1969.

A outra parte é divulgada para depoimentos de outros artistas. Elton John e Jimmy Page, muito antes da fama, estiveram no Abbey Road como músicos de estúdio. Page, por exemplo, esteve na sessão de gravação de "Goldfinger", tema de abertura do terceiro filme de James Bond, cantado por Shirley Bassey e composto por John Barry.

Outro trabalho de destaque é "The Dark Side of the Moon", do Pink Floyd. Gravados separadamente, David Gilmour e Roger Waters falam das gravações, relembram Syd Barrett e, fazendo uma força inacreditável, fazem elogios ao trabalho do outro. A cara de ambos nesses momentos são impagáveis - faltou pouco para sair "aquele desgraçado... é um gênio".

A cantora Celeste e os irmãos Gallagher, Liam e Noel, aparecem para mostrar as novas gerações que passaram pelo estúdio. E, bem por cima, mostra o momento de maior crise no estúdio, triste momento em que equipamentos históricos foram vendidos - Paul McCartney comprou uma boa parte. A solução? Abrir para gravação de trilhas sonoras. E ninguém melhor do que John Williams para falar sobre isso e tecer diversos elogios ao lugar.

Aproveitando a influência do sobrenome, Mary McCartney traz alguns dos convidados mais famosos que um documentarista pode querer para falar sobre música. De estrutura simples, "Se Estas Paredes Cantassem" passa uma boa parte do tempo falando sobre os Beatles e avança muito pouco em assuntos mais delicados, mas, no geral, consegue traçar um bom panorama sobre a importância do local, seja pela mística ou pela qualidade, e como Abbey Road cravou o nome definitivamente na cultura pop.

Avaliação: bom

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