Resenha: Cesária Évora, de Ana Sofia Fonseca

Filme está presente na programação da 27ª edição do festival É Tudo Verdade, que acontece de 31 de março a 10 de abril

Mais de uma década após a morte de Cesária Évora (1941-2011), os fãs órfãos de sua música, críticos e admirados ainda seguem buscando entender como ela, perto dos 50 anos, foi descoberta quase por acaso por José da Silva, um homem que só virou empresário por causa dela, e disso partiu para o estrelato mundial cantando morna, gênero musical mais famoso de Cabo Verde. Em pouco mais de duas décadas, o pequeno arquipélago, ex-colônia portuguesa e local de nascimento, ficou pequeno para tanto talento dessa fã da cantora brasileira Angela Maria.

Dirigido pela jornalista portuguesa Ana Sofia Fonseca, o longa traz apenas o nome da cantora. Sem subtítulo ou sem qualquer outra coisa para chamar atenção, é uma aposta arriscada para chamar o interesse de quem não é fã ou não conhece a história da cantora. Ainda bem que a curiosidade foi maior e valeu muito a pena.

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Fonseca não perde tempo com pormenores ou tenta transformar o objeto do documentário em algo que ela não foi. Não, Cesária Évora era o que era e ponto final. A introdução ajuda a contar um pouco de quem foi ela para, então, partir para o aprofundamento não só da história dela, mas de Cabo Verde, da música mundial e de como ela conseguiu o sucesso ao ponto de lotar casas de espetáculos em Los Angeles, Nova York, Paris e Moscou.

Os depoimentos de parentes, empresário, colegas músicos, pessoas da banda e amigas de infância são complementados em tela por imagens de arquivo de shows, entrevistas, gravações e momentos históricos cabo-verdianos, tudo entrelaçado pela cantoria de Cesária, pessoa de personalidade difícil e que moldou o show do jeito que quis — ela cantava, no máximo, por meia hora e dava uma pausa para sentar, descansar os pés com problemas de cravos desde a infância, beber um pouco e só depois retomava.

O longa aborda os problemas com a bebida da cantora que, o empresário querendo ou não, eram sérios. Secar uma garrafa, seja lá que fosse antes de uma apresentação, não é nada saudável para ninguém. Ou como ela distribuiria dinheiro para qualquer um, ou ajudava qualquer pessoa necessitada, sem se importar muito quem era ou o que fazia da vida. Cesária Évora era isso, generosa, de personalidade forte e com uma presença no palco e na vida como poucos.

A cantora teve depressão por mais de uma década, ao ponto de ficar sem sair de casa no período, e, segundo a neta, era bipolar. Os problemas de saúde retornaram perto dos 70 anos e deixavam as turnês e gravações tensas. Perto do fim, dois AVCs (Acidente Vascular Cerebral) terminaram com a carreira em setembro de 2011. Após um período muito difícil para todos — principalmente quando ela disse que, sem cantar, "só restava morrer" —, ela morreu, aos 70 anos, em dezembro daquele ano.

"Cesária Évora" é uma homenagem "a diva dos pés descalços", uma das melhores e mais importantes cantoras dos últimos 30 anos e um personagem fundamental para entender Cabo Verde nos tempos de colônia e de independência. As imagens do presente e do passado contam essa história que merece ser mais conhecida pelas novas gerações. Cesária não está mais entre nós, mas, usando um clichê desses bem baratos, a música dela é eterna.

Avaliação: muito bom

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