Resenha: Kendrick Lamar - Mr. Morale and the Big Steppers

Kendrick Lamar é um dos rappers mais importantes do século 21 com sobras. Do início da carreira com "Section.80", de 2011, passando por "Good Kid, M.A.A.D City" (2012), "To Pimp a Butterfly" (2015), "Damn" (2017) e a trilha sonora do filme "Pantera Negra", ele sempre deu mostras de estar ligado nos problemas do mundo e conseguir transformar tudo isso em trabalhos importantes.

Mas é com "Mr. Morale & the Big Steppers" que ele, aos 34 anos, chegou ao auge da carreira com o melhor disco de toda discografia ao abordar temas como infância, traumas, infidelidade, terapia, religião, identidade de gênero, paternidade, pandemia, mentiras, pressões da fama e cultura de cancelamento. Logo na primeira faixa, "United in Grief", ele reflete sobre as conquistas pessoais e profissionais, bem como peso de tudo isso na saúde mental.

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À medida que o disco avança, podemos ouvir a evolução de alguém que, ao que parece, não tem ninguém de nível parecido pelos próximos anos para acompanhá-lo. Isso vem muito de canções como "Worldwide Steppers", uma autocrítica pesada autoinfligida por alguém com o fardo dos elogios e da responsabilidade em lidar com isso, "Die Hard", sobre como os traumas do passado podem interferir no presente, e no auge do disco 1 com "We Cry Together", uma briga de casal com participação de Taylour Paige e com sampler de "June", da Florence + The Machine — uma interpretação da letra é a briga de Lamar com rappers famosos por conta do auto-isolamento musical imposto por ele ao longo de cinco anos.

A segunda parte traz um rapper disposto a entender os dilemas do disco anterior para tentar melhorar nos aspectos pessoais, caso de "Count Me Out", tentar ser uma boa pessoa para a comunidade ("Crown") e como ser famoso tem consequências para o bem e para o mal ("Silent Hill"). Duas duas faixas de bastante atenção são "Savior (Interlude)" e "Savior". Conectadas entre si, mostram a fé e colocam o óbvio: não existe salvador, são todos humanos com defeitos e qualidades. Os arranjos de ambas são os trunfos dessa sequência espetacular.

Outro grande momento está em "Mr. Morale", quando Lamar aborda os próprios traumas, excessos e como lida com isso. É o famoso: ninguém sabe como é até passar pelo problema, frase explicada com riqueza de detalhes na excelente "Mother I Sober", com participação de Beth Gibbons, do Portishead, quando reafirma ser apenas um ser humano, não o santo que as pessoas esperam que ele seja. E isso resulta na terapêutica "Mirror", faixa de encerramento do trabalho.

Kendrick Lamar faz de "Mr. Morale & the Big Steppers" o trabalho da vida. Ao falar dele mesmo, os problemas, as lutas e as glórias, ele mostra ao mundo uma faceta cheia de qualidades e defeitos em músicas que passam pelo jazz, funk, psicodélico, blues, R&B, soul e trap. Se o céu é o limite para os mortais, Lamar acaba de ultrapassá-lo com o disco mais marcante da carreira.

Tracklist:

Disco 1

1 - "United in Grief"
2 - "N95"
3 - "Worldwide Steppers"
4 - "Die Hard" (with Blxst and Amanda Reifer)
5 - "Father Time" (featuring Sampha)
6 - "Rich (Interlude)"
7 - "Rich Spirit"
8 - "We Cry Together" (with Taylour Paige)
9 - "Purple Hearts" (with Summer Walker and Ghostface Killah)

Disco 2

1 - "Count Me Out"
2 - "Crown"
3 - "Silent Hill" (with Kodak Black)
4 - "Savior (Interlude)"
5 - "Savior" (with Baby Keem and Sam Dew)
6 - "Auntie Diaries"
7 - "Mr. Morale" (with Tanna Leone)
8 - "Mother I Sober" (featuring Beth Gibbons)
9 - "Mirror"

Avaliação: excelente

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