Resenha: Woodstock 99 - Paz, Amor e Fúria, de Garret Price


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O festival Woodstock foi um marco na contra-cultura dos anos 1960, um exemplo de como era possível fazer um festival com amor, paz e, principalmente, sem violência — na teoria, já que a prática foi outra. Para celebrar os 25 anos do evento, os organizadores, capitaneados por Michael Lang, John P. Roberts e Joel Rosenman, decidiram fazer uma edição comemorativa em 1994. E foi um sucesso tremendo com atrações que misturavam a nova e a velha guarda.

Com isso, a ideia de repetir para celebrar o aniversário de 30 anos, em 1999, era mais que certa. Assim nasceu o Woodstock 99, festival feito para o jovem público doido para viver as mesmas experiências dos pais. Esse é o resumo inicial de "Woodstock 99: Paz, Amor e Fúria", de Garret Price, primeiro episódio da série-documental Music Box, do HBO Max, organizada por Bill Simmons, antigo responsável pela premiada série esportiva 30 For 30, da ESPN.

A série da ESPN é bastante conhecida por não apenas explorar personagens e momentos históricos em entrevistas, mas conseguir contextualizar bem ao incluir vários detalhes na narrativa para construir o todo. Nesse trabalho de estreia, todos esses elementos estão presentes em entrevistas de artistas, voluntários, espectadores, jornalistas e os organizadores do evento. Cada conta a própria história e, ao unir esses pontos de vista, temos um relato dos mais macabros e terríveis sobre o evento.

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Price consegue inserir com maestria o clima da época. Poucos meses antes do Woodstock 99, aconteceu o Massacre de Columbine, quando dois alunos invadiram uma escola e mataram 12 estudantes e feriram outras 21 pessoas. E existia a expectativa pelo início dos anos 2000 e como seria. Na música, os adolescentes, a maioria homens, brancos, heterossexuais, estavam com raiva. O pop havia dominado as paradas e o rock estava cada vez mais de lado na MTV. Eles estavam com muita raiva.

Essas pessoas com nervos exaltados foram colocadas todas juntas em uma base militar para ouvir a música da época, o nu metal, subgênero que mistura elementos do metal com hip-hop e industrial, basicamente. Pessoas de 20 anos em um lugar fechado, não tinha como resultar em algo bom. Mas quando os problemas surgiram, falta de água, fome, calor e abstinência de sono, a maioria ali simplesmente enlouqueceu e passou e agir como selvagens. O curioso era que o clima na pequena cidade de Rome, em Nova York, era o melhor possível. Mas tudo mudou. E rápido.

A história dos tumultos vai ganhando corpo na narrativa à medida dos dias. De objetificação da mulher a violência sexual passando pelos mais diversos crimes, definitivamente, a música rapidamente passou de mote principal a praticamente esquecida. E a coisa explodiu de vez no último dia. E não ajudou nada o fato de, quando focos de incêndio começaram, o Red Hot Chili Peppers fazer um cover de "Fire", de Jimi Hendrix.

O primeiro capítulo da série começa absurdamente bem ao mostrar o fracasso de Woodstock 99 em replicar qualquer idealismo de 30 anos antes, ainda que um idealismo de fachada. Mais de duas décadas depois do evento, é curioso concluir que é exatamente esse mesmo perfil, na época jovem, que sustenta governos autoritários, falam em "mimimi" e busca qualquer relevância na força para mostrar poder.

Avaliação: ótimo

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