Resenha: Chorão - Marginal Alado, de Felipe Novaes


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Se você tem mais de 30 anos, sabe muito bem qual foi o impacto do Charlie Brown Jr. na juventude do início dos anos 2000. Em São Paulo, era ligar a Metropolitana ou a 89FM para ouvir alguma canção do grupo. E eram vários hits tocando o tempo inteiro na MTV, rua, na chuva, na fazenda ou numa casinha de sapê.

Por isso, quando o documentário "Chorão: Marginal Alado", dirigido por Felipe Novaes, foi anunciado, a expectativa era muito alta. Chorão (1970–2013), vocalista do grupo, foi uma importante voz para a juventude da época em canções sobre a vida, amores, dissabores e o amor pelo skate. É uma história e tanto: um garoto que, ao ir para Santos, encontrou uma identidade e viu na música uma forma de expressar os próprios sentimentos.

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Uma pena que, infelizmente, o longa não passa perto de usar todo potencial da vida e obra de Chorão ao entregar apenas o básico do básico. Logo de cara, nos primeiros minutos, existe uma falta notória da vida dele em Santos. A edição passa muito por cima e não dá detalhes sobre a infância e a juventude. Ele andava de skate, era brigão e gostava de namorar. Ok. E não tinha mais ninguém além do amigo e advogado para falar do período? Ninguém ali com seus 50, 60 ou 70 anos que lembra dele perambulando pela calçadas aprontando altas confusões? Dez minutos a mais para traçar um perfil dele da época seriam suficientes.

É óbvio que o tempo no Charlie Brown Jr. toma muito tempo e faz sentido. Afinal, banda e Chorão foram uma coisa só durante muito tempo. Criador e criatura se fundiram e não existiu um sem o outro, já que um era o outro e sempre será. As imagens inéditas e os depoimentos ajudam a entender ascensão e queda do grupo nas mais diversas formações ao longo de pouco mais de uma década de existência.

A parte final é reservada para como os problemas de Chorão, pessoais e profissionais, resultaram no uso excessivo de drogas e na decadência física e psicológica de um dos compositores mais ativos do rock brasileiro. O trágico fim parecia ser questão de tempo. E, infelizmente, em 6 de março de 2013, aconteceu o inevitável. O vocalista foi encontrado morto em casa.

Um documentário não precisa contar toda história da vida de uma pessoa, afinal, é impossível resumir tantos anos de vida em alguns minutos. Mas faltou muita coisa para fazer de "Chorão: Marginal Alado" um material marcante sobre uma pessoa marcante. As imagens de arquivo até compensam um pouco ao mostrar os bastidores dos shows, mas não ajudam a entender essa pessoa "de personalidade difícil" e "um doce" ao mesmo tempo. E ainda há o fato de reaproveitarem uma entrevista de Graziela, ex-mulher, para a TPM. Ela não quis dar um novo depoimento? Isso não fica claro.

O final nós já sabemos, o sucesso podemos ouvir até hoje. Faltou contar como ele viveu, fundamental para entender quem foi Alexandre Magno Abrão e os motivos de ele usar sua arte para fazer tanto por tanta gente.

Avaliação: regular

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