O futuro chegou: receita de música por streaming supera vendas físicas


Brasil lidera quesito na América Latina com crescimento de quase 18% em 2017

Finalmente, o inevitável aconteceu: a receita dos serviços que disponibilizam música por streaming superou as vendas físicas e os downloads digitais, segundo dados da Federação Internacional da Indústria Fonográfica (IFPI, na sigla em inglês), divulgados ontem (24).

A passagem de bastão era algo esperado há algum tempo e foi confirmada em um momento de consolidação do formato sob demanda não apenas na música, mas em outras áreas – do jornalismo ao entretenimento. Spotify, Apple Music, Deezer, Tidal e outros têm boa responsabilidade na nova fase de crescimento da indústria da música nos últimos cinco ou seis anos.

O aumento foi de 29% para 38% da fatia do bolo de US$ 17,3 bilhões da receita total – um aumento de pouco mais de 8% em comparação aos números de 2016. Segundo o IFPI, o aumento do consumo de streaming ajuda a diminuir a quantidade de pirataria online de materiais de músicos, cenário muito diferente do problema ainda enfrentado pelos estúdios de cinema.

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A Apple é um exemplo de como essa mudança no jeito de consumir música a beneficiou e a prejudicou. No início dos anos 2000, Steve Jobs pressionou as gravadoras para conseguir preços baixos no que viria a ser o iTunes, uma tentativa de diminuir a influência de sites piratas no auge da troca de arquivos entre usuários em meio a uma crise que acabou com cargos, derrubou CEOs e fechou lojas de discos pelo mundo. Quase duas décadas depois, a empresa é uma das responsáveis pela nova indústria da música com o Apple Music.

Mas, diferente do iTunes, os serviços de streaming acabam tendo um alcance muito mais global ao oferecer música "gratuita" – sim, entre aspas, porque o usuário que não paga precisa ouvir determinado número de propagandas após uma quantidade de minutos ouvidos de música. Os mercados que mais cresceram foram América Latina e China, com um aumento da receita geral com música quase 18% e pouco mais de 35%, respectivamente.

O crescimento no Brasil foi pouco mais do que o dobro da média do resto do mundo (17,3% a 8,1%), uma recuperação muito grande se considerarmos que a indústria local vinha de dois anos seguidos de retração (-1,7% em 2015; -3% em 2016). O consumo de música por streaming no Brasil foi de 64% em 2017 contra pouco mais de 41% no resto do mundo. Aliás, o mercado nacional digital de música já responde por 92% do faturamento total – o resto é de vendas físicas.

A expectativa ainda é de mais crescimento neste ano. Com a popularização dos smartphones entre as classes C, D e E, virando um bem de consumo essencial em todas as regiões do País, a tendência é aumentar ainda mais esse número. As pessoas estão buscando meios cômodos de ver programas, então não seria diferente com música. Ocupando o nono lugar no consumo mundial em streaming (atrás de Estados Unidos, Japão, Alemanha, Inglaterra, França, Coreia do Sul, Canadá e Austrália), existe a expectativa de chegar até o quinto lugar até o fim de 2018.


Muito disso vem do sucesso de artistas de grande consumo, como Ed Sheeran, e da nova geração que cresceu dependendo do digital e sem os vícios dos velhos artistas. Anitta, Luan Santana, Wesley Safadão, Simaria e Simaria, Nego do Borel e Pabllo Vittar são alguns desses exemplos recentes.

Porém o faturamento total de 2017 corresponde a apenas 31,6% do último grande auge da indústria da música, ocorrido em 1999. Uma projeção mostra que, mantendo esse ritmo de crescimento, é possível chegar ao mesmo patamar em 2030. Dá chegar lá? Sim, mas estamos falando de uma indústria que passou por transformações profundas vistas por todos. Lições foram – ou deveriam ter – sido aprendidas por todos os envolvidos.

Especular ou tentar adivinhar os rumos de um mercado que engloba música e tecnologia é muito difícil, principalmente pela velocidade de mudanças e criações de novos produtos. É bom levar em consideração que o Spotify, por exemplo, ainda não dá lucro ao gastar 0,70 com direitos autorais de cada dólar arrecadado – a entrada na bolsa de valores é uma jogada para ganhar mais dinheiro, com o ônus e o bônus disso. Sem dúvida, o crescimento da indústria é notório e deve ser comemorado, mas, como diria minha mãe, cautela a canja de galinha não fazem mal a ninguém.

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