Resenha: Depeche Mode – Spirit


Trio britânico lançou o disco no último dia 17

Os anos 1980 produziram muitas bandas maravilhosas que ficaram para sempre em nossos corações, seja lá o gênero musical que você gosta. Uma delas é o Depeche Mode, que construiu uma sólida discografia sem parar por dez, 15 ou 20 anos e retornar agora para colher os louros do sucesso do passado pegando o dinheiro dessa geração. Eles seguiram firmes como poucas bandas, e isso merece ser respeitado. Há duas semanas, eles lançaram Spirit, 14º álbum de estúdio e sucessor do bom Delta Machine (2013).

De cara, uma lição aos jovens: em um mundo estranho como esse em que estamos vivendo, não dá para ficar fazendo música romântica e esperando tudo passar. É necessário enfrentamento. "Going Backwards", primeira faixa do disco, traz no verso inicial We are not there yet/ We have not evolved/ We have no respect/ We have lost control/ We're going backwards/ Ignoring the realities/ Going backwards/ Are you counting all the casualties? Uma pancada de olhar preciso sobre as atualidades.

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E não para na abertura, porque "Where's the Revolution" é música para estar por alguns anos no repertório. Política até o fio da medula, mostra um Depeche Mode consciente do que acontece no mundo. A letra, muito profunda sobre questões sócio-políticas, traz o sintetizador como base de um refrão (Where's the revolution?/ Come on, people/ You're letting me down/ Where's the revolution?/ Come on, people/ You're letting me down) muito forte e reflexivo. Um golaço enorme, algo para ficar marcado na carreira deles. A seguinte, a triste balada "The Worst Crime", trata os seres humanos como... Humanos, no sentido de agirmos da pior maneira possível quando estamos com medo – lembra algumas situações da política dos últimos meses?

"Scum" coloca muitos efeitos para falar de um tipo de gente da pior espécie ainda terá seu julgamento nos últimos dias, já "You Move" é diferente do resto do álbum ao trazer uma faixa mais sensual logo depois de três pancadas. E, intencional ou não, as música são todas conectadas entre si, dando uma sensação de ser uma peça única do início ao fim. O clima do disco vai suavizando, e o exemplo disso é "You Move", uma balada oitentista de tom poético e melodia bem suave – ideal para você a gata (o), um vinho, um banho...

Curta e muito densa, "Eternal" é mais uma para pensar, principalmente no tom usado para transmitir a mensagem. Mas outras que ficarão por muito tempo no repertório do grupo, e isso é pura torcida mesmo são as ótimas "Poison Heart", uma poderosa faixa sobre como uma amizade pode acabar em tragédia quando um dos lados só pensa em si, e "So Much Love", mais uma balada – essa de refrão e melodia bem grudentos – bem profunda sobre o fim de um relacionamento.

"Poorman" tem todas as características para ser uma faixa do Depeche Mode, mas também poderia ser um blues tranquilamente pelo tom melancólico da guitarra misturado com o sintetizador. Outra potente canção do registro é "No More (This Is the Last Time)" e seu refrão (This is the last time/ I'll say goodbye/ The last time/ Then we won't have to lie/ The last time/ Call it what you want/ You don't mean a thing to me no more) – um bom exemplo de faixa simples, mas encantadora do início ao fim. O tom político retorna na última faixa, "Fail", em que a banda faz uma reflexão sobre o mundo e diz sem a menor cerimônia: estamos fodidos.

Esse disco do Depeche Mode vale ouvir e pode até mudar sua vida. Porque deixa claro que há muita coisa ruim no mundo hoje, e nós devemos comprar a briga. Também há um claro recado aos mais jovens: a inércia não nos levará a lugar algum, então está na hora de agir. É sensacional saber que uma banda veterana ainda tem fôlego para um disco tão intenso.

Tracklist:

1 - "Going Backwards"
2 - "Where's the Revolution"
3 - "The Worst Crime"
4 - "Scum"
5 - "You Move"
6 - "Cover Me"
7 - "Eternal"
8 - "Poison Heart"
9 - "So Much Love"
10 - "Poorman"
11 - "No More (This Is the Last Time)"
12 - "Fail"

Nota: 4/5



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