Dez discos de metal lançados em outubro que merecem sua atenção (com bônus)


Por Rodrigo Carvalho

Chegou outubro.

A locomotiva do ano começa a frear lentamente e diminuir o ritmo. O frenesi de lançamentos se aquieta ao passo que as bandas percebem que ninguém mais está interessado o suficiente em ouvir coisas novas, para figurar nas listas de fim de ano.

Mas a música sempre pode impressionar àqueles que buscam material de qualidade, independente da época. Olhando por este lado, ainda há muito a ser lançado até as últimas horas de 2015. E acreditem, outubro é uma das últimas fronteiras e reserva gratas e inesperadas surpresas.


Avatarium – The Girl With the Raven Mask

Jennie-Ann Smith abriu mais alguns portais do doom metal quando nos contou histórias sobre florestas de ossos, portadoras de lampiões e cavalos na lua há dois anos. Estas histórias sobre um mundo fantasioso, crepuscular remetiam diretamente a paisagens árcades, daqueles tipos perfeitos para crianças que levam uma vida muito dura no campo. The Girl With the Raven Mask, porém, parece mais direcionado a uma bela conversa ao redor da fogueira, mais agressivas, pesadas e soturnas, com reflexo direto no instrumental, que deixa um pouco de lado as influências folk para erguer aquele hard rock mais arrastado envolto pelo ocultismo setentista. E continua dando calafrios na sua espinha.


Caligula’s Horse – Bloom 

Cria de uma mesma geração do rock progressivo que apresentou ao mundo o Leprous, o Haken e o Soen, a primeira que parece ter se desgarrado da herança que o Dream Theater e o Queensrÿche deixaram, os australianos do Caligula’s Horse permaneceram nas sombras ao longo dos anos mesmo com uma obra praticamente perfeita em seu currículo. Bloom é o seu terceiro e menos oscilante álbum, e se não exagera nos detalhes, vangloria-se em composições muito mais focadas no sentimento e na imagem mental: um momento você está no meio de uma floresta da velha Inglaterra, e no seguinte pode estar nos elementos pop dos centros australianos, em algum cinzento bairro americano ou flutuando no espaço sem velocidade definida.


Deafheaven – New Bermuda

Sunbather foi um evento. Goste ou não, o Deafheaven atraiu a atenção do mundo com a sua capa rosa, fonte de revista de moda, eventos da Apple e discussões sobre o "quão metal" eles eram, escancarando também sobre como o black metal nos Estados Unidos definitivamente era algo a ser explorado. Dois anos depois, New Bermuda traz uma capa menos impactante, menos controversa, e levantando a questão se é o suficiente para reacender a chama do trabalho anterior. Bastam alguns momentos para perceber que a banda severamente aprimorou a sua fórmula: mais elementos, um novo dinamismo e cuidado para as composições, que soam cada vez mais cristalinas. Em interessante contraste, brusca e compreensível, a maturidade é refletida em cada uma das faixas. O que só torna inexplicável como New Bermuda não teve a mesma reação exacerbada de Sunbather. Vocês por acaso já se esqueceram dessa banda, foi isso?


Gazpacho – Molok

O segredo de estilos saturados está em monitorar as bandas certas. O Gazpacho sempre esteve às margens das bandas que mais se destacavam no rock progressivo, e talvez por isso a sua liberdade criativa sempre foi aspecto determinante para aqueles que mergulharam a fundo no universo criado por estes seis noruegueses. Molok, o novo episódio, foca em uma sonoridade mais tranquila se comparada às recentes manifestações, ainda mantendo um conceito inventivo que transporta direto para uma Europa pós-Revolução Industrial, com questionamentos religiosos válidos até os dias de hoje, poéticos sobre uma música completamente aberta às inserções inesperadas de ritmos e instrumentos operísticos e ao jogo de vozes teatral.


Kylesa – Exhausting Fire

O Kylesa é uma entidade que se arrastou das profundezas de Savannah em um formato bruto, perplexo e revoltado com o mundo no qual despertou, deixando um traço de lama e água suja por onde passava. O tempo passou, e a criatura guiada por Laura Pleasants e Phillip Cope se tornou mais senciente, suscetível a estímulos cada vez mais diversificados, tornando-se um apanhado de argila que pode ser eternamente moldado e colorido de acordo com o momento. Exhausting Fire apresenta traços do stoner carregado de fuzz, do hardcore inocente de eras imemoriais, dividindo espaço com gothic rock, black metal, rock psicodélico, como uma nuvem formada por milhares de vozes que jamais param de sussurrar.


Shining – International Blackjazz Society

Batidas industriais frenéticas como base para distorções em volumes absurdamente saturados com efeitos que parecem saídos de algum lugar da década de noventa, coroadas pelo mais esquizofrênico saxofone? A rachadura no tecido da música que o Shining norueguês tem feito não é mais segredo, tampouco novidade. Porém, o equilíbrio entre a cacofonia desenfreada, o experimentalismo com instrumentos de sopro e o bate estacas eletrônico finalmente parece ter sido atingido com International Blackjazz Society, como se esses diversos elementos estivessem encurralados em cima de uma frágil pedra no topo de uma montanha, e o menor movimento pode desencadear uma avalanche.


So Hideous – Laurestine 

Laurestine é uma história sobre a mente de um homem nos sete minutos após a sua morte, quando ele ainda está neste vácuo antes de a vida se esvair por completo. O pano de fundo para o que talvez seja o mais belo, surreal e cataclísmico álbum do ano. Não existem limites perceptíveis, bordas entre cada momento nem a coerência necessária aos ignorantes. Tudo é desenfreado, mas ainda assim seguindo um fluxo que deixa o seu cérebro vidrado com o que pode vir a seguir. Essa frase já foi usada aqui, mas o que o So Hideous faz é mais uma evidência definitiva de que há beleza no caos.


The Black Heart Rebellion – People, When You See the Smoke, Do Not Think It Is Fields They're Burning

Por mais de uma década, o The Black Heart Rebellion vem coletando pequenos galhos, vimes, flores, pedras e sementes para montar em um processo artesanal extremamente doloroso o amuleto que compõe a sua identidade musical. Como membros do coletivo musical The Church of Ra, os belgas prosseguem em People, When You See the Smoke, Do Not Think It Is Fields They're Burning (título tirado de um poema escrito pelo monge Baika) com este ritual construtivo, uma união de punk, neo folk, ritmos tribais e ruídos extraídos de forma lenta e atmosférica, formando uma cerimônia alquímica quase hipnótica.


Vhol – Deeper Than Sky

Quando você une sujeitos inesperados como Mike Scheidt (YOB) e John Cobbett (Hammers of Misfortune) uma incógnita se forma. E o Vhol é uma resposta exatamente como não se espera: formado nas fundações do speed e thrash metal, quando ele ainda se confundia um pouco com o punk hardcore, traz ainda elementos psicodélicos, arranjos orquestrais e power metal para a equação, alguns pilares começam a ruir. Para dar passagem para este que provavelmente é o álbum de thrash metal realmente condizente com o ano de 2015.


Wild Throne – Harvest of Darkness

Quando uma banda nova atrai a atenção, geralmente precisamos fazer comparações esdrúxulas. Então, como seria possível definir o som do Wild Throne? Pegue a imundície do Mastodon lá do início e misture com a insanidade do The Mars Volta em suas viagens mais distantes. Um que de Led Zeppelin aqui e ali, um pouco de psicodelia gerada a partir de algum cogumelo já extinto e aquela agressividade claustrofóbica e o desespero de um Protest the Hero. Esquisito, certo? E de fato é. Tão esquisito que Harvest of Darkness pode te deixar inerte durante horas, com as melodias rodando insistentemente enquanto seus olhos permanecem vidrados e um ligeiro filete de sangue escorre pelo nariz.

E os tradicionais bônus:

Born of Osiris – Soul Sphere

Os breakdowns no Egito Antigo simplesmente estão parecendo uma rave. Inacreditavelmente, funciona.

Coheed and Cambria – The Color Before the Sun

Claudio Sanchez parece ter encerrado a saga que inspirou toda a carreira da banda até hoje, para lançar uma coleção de contos mais pessoais em canções extremamente simples.

Corrections House – Know How To Carry a Whip

Sabem aqueles documentários que são um choque de realidade e servem pra dar um nó no seu estômago? Know How to Carry a Whip é um desses em formato de disco.

Magister Templi – Into Duat

Falando em Egito Antigo, Into Duat finalmente é um álbum de heavy metal tradicional que dá o devido tratamento à mitologia.

Sadist – Hyaena

A redenção do Sadist como uma banda de prog death metal. Alguns segundos e ela transporta diretamente para a década de noventa.

Skindred – Volume 

Acreditava-se que não tinha mais nenhum lado para o Skindred fazer piada sobre e expandir seu híbrido de reggae e heavy metal. Ledo engano. Eles vão além.

Twitching Tongues – Disharmony 

Se for permitido existir algo como occult doom hardcore, cá está um exemplo. E é incrível.

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