Dez discos de metal lançados em julho que merecem sua atenção


Por Rodrigo Carvalho 

Lembram que junho foi um mês esquisito?

Nós nem imaginávamos o inverno parado que seria julho.

As bandas provavelmente estavam tão preocupadas com os festivais de verão que poucos foram os lançamentos. E menos ainda os realmente essenciais e surpreendentes (tanto que nem temos material bônus dessa vez).

Mas acreditem: os que estão nessa lista valem, e muito, a audição mais cuidadosa.


Between the Buried and Me – Coma Ecliptic

Um sonho dentro de um sonho dentro de um sonho, em níveis tão confusos e turbulentos que fariam Leonardo DiCaprio chorar desesperadamente em posição fetal, o Between the Buried and Me continua sua jornada de desestruturação do prog metal e do metalcore de forma cada vez mais caótica e atordoante (ok, talvez seja impossível simplesmente classificá-los dessa forma atualmente). O conceito aqui carrega o ouvinte por inúmeras camadas de consciência, indefinidas e com o simples objetivo de deixar aquela sensação de estar eternamente preso em uma realidade que não faz o menor sentido. E estar plenamente ciente disso.


Cradle of Filth – Hammer of the Witches

Em tempos em que a música extrema está cada vez mais séria, introspectiva e desafiadora, o Cradle of Filth soa quase inocente, uma velha alma perdida em meio ao sangue novo sendo derramado. E talvez seja essa sua inocência, a voz esganiçada característica, os arranjos épicos pomposos sobre a combinação de black e gothic metal e as letras fantasiosamente infantis, que assombre Hammer of the Witches com um espírito inspirado, remetendo ao ápice do sinfônico e ainda assim diferente do que se ouvia dos ingleses há quase uma década. As regras do estilo dizem que você não deve ser Dani Filth. Mas esse álbum demonstra como o sujeito continua sendo uma das grandes figuras do black metal.


Écorché – Deep In The Ground

Imagine um dia receber uma fita de vídeo, embrulhada em papel pardo. Ao botar para rodar, imagens tortas, mal gravadas e cortadas, em preto e branco, começam a passar repetidamente em um ritmo quebrado diante dos seus olhos, em algum lugar entre o enigmático e o hipnotizante. Ao fundo, um som chiado, de marcação ditatorial e cacofônica, um black metal ruidoso que segue o fluxo de uma linha de montagem  abissal, formando um panorama épico e pós-apocalíptico ao mesmo tempo, o que torna Deep in the Ground um ensaio memorável, utilizando as mais terríveis e inimagináveis ferramentas.


Enfant – Ellipsism

“Ellipsism” é o termo concebido por John Koenig em seu The Dictionary of Obscure Sorrows (http://www.dictionaryofobscuresorrows.com) para definir a tristeza que sentimos por jamais saber o que teria acontecido se tivéssemos tomado escolhas diferentes em nossas vidas. Esse é o conceito utilizado pelo Ecorche, um fruto do coletivo musical boliviano El Outro Baile, em seu post-rock com fortes tendências ao progressivo mais técnico e à mescla com música latina (em especial aos ritmos folclóricos bolivianos). O resultado envolve literatura, questões sociais, tradições e artes visuais, transcendendo em muito apenas a música.


Lamb of God – VII: Sturm Und Drang

Randy Blythe esteve no inferno. A repercussão de toda a situação envolvendo o Lamb of God foi exaustiva, estressante e apreensiva para todos que acompanharam desde o início, e quase implodiram um dos mais e videntes nomes do heavy metal atual. VII: Sturm Und Drung é o juntar de suas próprias cinzas, a reconstrução de tudo o que a banda é, remontando sua identidade e abordando trilhas ainda não exploradas, de uma forma menos caótica e saturada, sacrificando os timbres estouradas em nome de uma amplitude maior de influências diretamente herdadas de algum lugar da década de noventa, exatamente onde estão suas raízes.


Locrian – Infinite Dissolution

Quem nunca se viu mergulhado em um daqueles pesadelos atormentadores? Em que você caminha por trilhas intermináveis, paisagens escuras pelas quais você passa pisoteando pequenos ossos, machucando seus pés, procurando desesperadamente por algo que você não sabe o que é? Uma sensação tão esquisita que você acorda abruptamente, suando frio e com algo preso à garganta? O Locrian se aproxima de forma agonizante destas sensações no (semi-)instrumental estranhamente inesperado de Infinite Dissolution.


N R C S S S T – Schizophrenic Art

Há uma aura única sobre os países bálticos. As reminiscências históricas assombram, para o bem ou para o mal, com paisagens e arquiteturas belíssimas contrastando incomodamente com cicatrizes ainda recentes. E esse clima parece ser um catalisador para bandas como o NRCSSST, que em Schizophrenic Art, aparece carregado pela mesma aura controversa em seu post-black metal com nuances de shoegaze, o que os envolve em uma atmosfera um tanto quanto diferente de seus congêneres do outro lado do oceano, de uma realidade completamente incomum.


Powerwolf – Blessed and Possessed

Uma realidade alternativa em que vivemos sob uma teocracia liderada por seres licantropos e vampíricos, eternamente mergulhada na idade das trevas, em que os humanos são reles servos e lacaios descartáveis da classe dominante. Esse é o pano de fundo apresentado pelo Powerwolf, mais do que adequado ao power metal de tendências épicas e gregorianas que os alemães trazem desde sua formação. Não há grandes novidades em seu sexto álbum, mas é mais uma demonstração de como eles talvez sejam os últimos a estarem mudando a forma de jogar nessa vertente.


Teenage Time Killers – Greatest Hits Vol. 1

Enquanto todos chamam a atenção para o fato de que o Teenage Time Killers tem o envolvimento de dois dos maiores clickbaits atuais (sim, eles, Dave Grohl e Corey Taylor), a verdade é que a criação de Reed Mullin (Corrosion of Conformity) e Mick Murphy (My Ruin) tem seus méritos próprios ao entregar uma coleção que vai daquele hardcore DIY das beiradas dos anos 90 ao stoner doom chapado, sempre apoiado na simplicidade e no desgarro técnico, o que dá um aspecto esfumaçado de underground para cada uma das 20 faixas. A participação de sujeitos como Randy Blythe, Aaron Beam, Jello Biafra, Neil Fallon, Tommy Victor e Mike IX Williams (além de uma porrada de outros) só tornam os 42 minutos deste volume I ainda mais rápidos.


Year of the Goat – The Unspeakable

Outra cria das profundezas nascida durante a ressurreição setentista e do occult rock de alguns anos atrás, o Year of the Goat se encontrava em um turbilhão infernal de irrelevância junto dezenas de outros. Alguns sobreviveram, outros mudaram, e o resto simplesmente sumiu no ar na primeira mudança de estação. Os suecos não apenas ainda respiram, como também parecem ter atravessado uma longa jornada até seu segundo trabalho: mantém as referências primordiais ampliando a sua visão para algo novo – o hard rock divide espaço com o doom, o folk, o rock progressivo e o gothic com alquimia divina. Eles escolheram o caminho mais difícil, mas que os conduzem diretamente ao ponto mais alto.

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