Resenha: Ana Cañas – Tô Na Vida


Ney Matogrosso, Arnaldo Antunes, Dadi, Pedro Luís e Lúcio Maia trabalharam com Ana Cañas em Tô Na Vida, quarto disco de estúdio da cantora. E o primeiro afirma categoricamente que o show dela é um dos melhores que já dirigiu. Isso só aumentou a expectativa para o novo trabalho dela, alardeado em propagandas pela internet e aparições em programas de rádio nas últimas semanas.

O início acústico da bonita "Existe" mostra uma Ana Cañas bem segura, o que é sempre bom logo de cara. Até que a canção muda um pouco, ganhar mais instrumentos e a letra exalta as pessoas, tão diferentes e iguais. A pegada radiofônica é certeira, seja pelo ritmo ou pela letra fácil de decorar. O vocal de apoio delicado esconde o sentimento profundo e raivoso da faixa-título de uma faixa em que o vocal sentimental é o grande destaque.

Existem canções que pegam de tal maneira que é difícil não ouvi-las mais de uma vez. É o caso da linda "Hoje nunca Mais", uma das mais bonitas lançadas no Brasil em 2015. A melodia leve, mesclando vários instrumentos, o vocal suave e sem pressa, a letra identificável por qualquer ser humano com o mínimo de coração. Enfim... É dessas para ouvir, cantar e chorar junto nos shows, e "O Som do Osso" é para pular junto por ser dançante, animada e mais pesada do que as anteriores juntas.

"Indivisível" traz a guitarra alta pela primeira vez em uma canção com certa pegada pop – vocais dobrados, verso-refrão-verso e outros elementos de sucesso certo –, já "Coisa Deus" é ótima por misturar o acústico e o elétrico em uma canção que conta com uma cantora ainda mais inspirada (parece que encontrou o ritmo certo do disco, melhorando e perto de atingir o auge) numa música que tem toques de flamenco pedindo amor incessantemente.

A simples "Bandido" quebra um pouco o ritmo, mas, de orelhada, parece ter uma imensa influência de “Bandido Corazón”, eternizada na voz de Ney Matogrosso. Mais acelerada que a anterior, "Feita de Fim" tem um refrão pegajoso e bom ritmo para emplacar como single, assim como "Um Dois Um Só" – dessa em especial, não sei o motivo, mas ela soa como tema de novela de personagem principal. Fica a dica, diriam os poetas da internet.

Mais cheia de guitarras, e até com efeitos e solos, "Amor e Dor" pegará qualquer um que tenha terminado um relacionamento recentemente, enquanto "Mulher" é um retrato da nossa sociedade atual, em que as mulheres estão cada vez mais conscientes de seus direitos e estão correndo atrás, reclamando e tentando mudar certas regras machistas (o que é ótimo, continuem assim). E a canção é ótima também, além de ser uma bela homenagem.

Um grande defeito de nós, humanos, é exposto em "Pra Machucar". Quem nunca falou besteiras e machucou os sentimentos de alguém? Ana Cañas vai na mosca mais uma vez, e "Madrugada Quer Você" é uma canção adulta para gente adulta. É tudo muito direto e sem rodeios, o que é sempre ótimo. No fim, ela reserva uma mensagem positiva ao falar que o "O Amor Venceu", não deixa de ser uma ponta de esperança para todos nós.

Ao final da audição desse álbum, a impressão é o amadurecimento de Ana Cañas. E não digo um amadurecimento como cantora, mas como mulher. Tocar em temas amorosos não é novidade na música, porém a forma de como se fala isso é que difere o disco bobinho romântico de algo adulto e feito para um público maduro. O segundo caso é o que acontece aqui, principalmente por trazer uma visão feminina de tudo que acontece nos dias atuais. Ainda assim, com alegrias e frustrações, a esperança continua firme e forte. É um ótimo recado, principalmente no tempo em que vivemos. É um álbum que não ficará datado. É um álbum excelente, no final das contas.

Tracklist:

1 - "Existe"
2 - "Tô Na Vida"
3 - "Hoje Nunca Mais"
4 - "O Som do Osso"
5 - "Indivisível"
6 - "Coisa Deus"
7 - "Bandido"
8 - "Feita de Fim"
9 - "Um Dois Um Só"
10 - "Amor e Dor"
11 - "Mulher"
12 - "Pra Machucar"
13 - "Madrugada Quer Você"
14 - "O Amor Venceu"

Nota: 4,5/5


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