Resenha: Terakaft – Alone


Assim que Diara e Kedhou ag Ossad deixaram o Tinariwen, logo se imaginou que a banda não perderia dois membros importantes, mas que o Mali ganharia mais uma banda importante no cenário internacional. E quem deu esse palpite foi na mosca. Ao lado dos sobrinhos Sanou e Abdallah Ag Ahmed, eles fundaram o Terakaft, uma banda que está ligada aos movimentos blues touareg – estilo musical desenvolvido principalmente no norte da África – e ao desert rock africano (rock do deserto, em tradução livre).

No início de maio, eles lançaram Alone, sexto trabalho em estúdio, e "Anabayou" mostra toda sonoridade tradicional africana com um adendo importante: a guitarra é parte fundamental da estrutura da música do início ao fim, seja no andamento, seja um riff, seja com aparições curtas. De cara, é possível entender o motivo de o movimento musical ter blues no nome ao abrir com essa faixa leve e, ao mesmo tempo, empolgante.

Se "Tafouk télé" pudesse ter uma família, diria que a mãe é africana e o pai é o blues. Nessa união, temos uma canção que soa muito como um ritual, algo muito tradicional e importante naquele lugar do mundo, e que nós, os ouvintes, somos privilegiados por ter a chance de ouvir um pedaço disso. Aqui, mais do que em qualquer disco lançado por qualquer fenômeno pop nos últimos dez anos, a sensação é de fazer parte de alguma coisa imperdível, que dá vontade de sair contando a todos sobre essa beleza.

Quase religiosa, "Karambani" foca mais na parte instrumental, diferente de "Itilla Ihene Dagh Aitma", mais jazz e usa mais instrumentos para construir a melodia. Outra que mescla mais a música tradicional e outros elementos, "Oulhin Asnin" é tranquila e bem suave, muito apropriada para relaxar e pensar na bela cultura africana e perceber que a internet é maravilhosa para reduzir distâncias. Quando teríamos a oportunidade de ouvir esse disco há 15, 20 anos?

O blues volta na bela "Kal Hoggar", momento em que a guitarra tem seu espaço para ser mostrada e apreciada pelo ouvinte, e a animada "Amidinin Senta Aneflas" serve para dar aquela quebrada na seriedade do álbum. O final do disco reserva uma mais tradicional ("Wahouche Natareh") e uma acústica muito bonita ("Anabayou").

Nenhuma explicação serve para falar desse disco maravilhoso, que mistura a raiva de ver um país em frangalhos com a delicadeza da mistura da música local e toques de blues e jazz. Escutem até enjoar.

Tracklist:

1 – "Anabayou"
2 – "Tafouk télé"
3 – "Karambani"
4 – "Itilla Ihene Dagh Aitma"
5 – "Oulhin Asnin"
6 – "Kal Hoggar"
7 – "Amidinin Senta Aneflas"
8 – "Wahouche Natareh"
9 – "Anabayou"

Nota: 4,5/5


Veja também:
Resenha: Tame Impala – Currents
Resenha: Neil Young – The Monsanto Years
Resenha: Buffy Sainte-Marie – Power In The Blood
Resenha: Tom Collier - Alone In The Studio
Resenha: Bryan Bowman - Like Minds
Resenha: Millencolin – True Brew
Resenha: Graham Parker and The Rumour – Mystery Glue