Resenha: Scott Henderson - Vibe Station


Por Gabriel Carvalho 

O guitarrista Scott Henderson ganhou fama com a banda de fusion Tribal Tech, formada no meio dos anos 1980. O trabalho do músico, entretanto, não se resume aos discos gravados com o grupo: Henderson tem uma carreira solo que começou flertando com o blues, mas agora parece fincar os dois pés no estilo que o consagrou. É o caso do mais recente disco, Vibe Station, em que o músico está acompanhado pelo baixista Travis Carlton e pelo baterista Alan Hertz.

“Church of Xotic Dance” abre os trabalhos em um fusion com doses de blues que não compromete, mas também não empolga. O que se percebe, logo de cara, é que a técnica de Henderson está mais do que em dia. Porém, como é comum a outros guitarristas que focam na música instrumental, a exibição técnica pode se tornar algo cansativo, como na interminável “Sphinix” e na parte central de “Manic Carpet” – que tem um ótimo riff de abertura (ainda que lembre, de longe, os riffs do Mastodon) e um final pesado que também agrada.

A faixa que dá nome ao disco é um fusion funkeado cujo resultado é o mesmo da faixa de abertura: é daquelas que “joga com o regulamento embaixo do braço”. Daqui pra frente, porém, o disco melhora: “Calhoun”, de melodia suave e bela, conquista o ouvinte e o leva a viajar através de um trabalho instrumental de primeira.

“The Covered Head” é a primeira aproximação com o jazz tradicional, diferenciando-se do estilo pelo contraste que a guitarra distorcida de Henderson insere na canção. Talvez o timbre de “Calhoun” caísse melhor nesta faixa. As performances de Hertz e de Carlton – do último, especialmente – são excelentes aqui. “Festival of Ghosts”, que vem na sequência, é tomada pelo fusion em praticamente toda a extensão. Aqui, Henderson apresenta frases de guitarra interessantíssimas e é possível dizer que, em termos sonoros e técnicos, é a melhor performance dele em todo o disco.

“Dew Wot?” traz um pouco de tudo: rock, fusion, funk e blues. Essa mistura de gêneros e ritmos tem como resultado uma canção muito interessante. As mudanças de andamento, complicadas, soam naturais aqui, como se os músicos estivessem apenas fazendo uma jam descompromissada. E o clima de jam se estende à faixa final do disco, “Chelsea Bridge”. Nesta, no entanto, a atmosfera da jam é totalmente tomada pelo jazz e, mais uma vez, a performance de Henderson em timbres mais limpos é destaque.

“Vibe Station” certamente agradará aos fascinados por guitarristas extremamente técnicos – caso de Henderson, músico de mão cheia – mas pode soar cansativo para ouvidos mais preocupados com o conjunto da obra do que apenas com demonstrações de técnica. O quinto disco da carreira solo do guitarrista é bom, porém acaba perdendo alguns pontos pela irregularidade e pelo excesso em alguns momentos, quando a técnica acaba não trabalhando a favor da música.

Tracklist:

1 – “Church of Xotic Dance”
2 – “Sphinx”
3 – “Vibe Station”
4 – “Manic Carpet”
5 – “Calhoun”
6 – “The Covered Head”
7 – “Festival of Ghosts”
8 – “Dew Wot?”
9 – “Chelsea Bridge”

Nota: 3/5


Veja também:
Resenha: Muse – Drones
Resenha: Willie Nelson e Merle Haggard – Django And Jimmie
Resenha: Girlpool – Before The World Was Big
Resenha: Florence and The Machine – How Big, How Blue, How Beautiful
Resenha: Dafnis Prieto Sextet - Triangles And Circles
Resenha: Odair José - Dia 16
Resenha: Holly Herndon – Platform