Resenha: Odair José - Dia 16


Pode não parecer, mas Odair José é um dos cantores mais genais da música brasileira. Com diversas fases em sua carreira, fez muito sucesso nos anos 1970, quando foi colocado como cantor brega, com canções em que o apelo popular foi muito forte ("Deixa Essa Vergonha De Lado", "Uma Vida Só", "Eu Vou Tirar Você Desse Lugar", "Eu, Você e a Praça", "Assim Sou Eu" e "Na Minha Opinião" são algumas delas).

Em 1977, ele lançou um dos clássicos da música popular brasileira, chamado O Filho de José e Maria. Foi um escândalo, desde o teor das letras até a pegada mais rock, nunca mais ele, que começou sua carreira como crooner de boate, conseguiu o mesmo sucesso comercial da antes. Hoje, esse álbum é aclamado como dos grandes momentos de alguém que soube se renovar e fazer o que tinha vontade. Infelizmente, isso não colocou a pecha de quem canta “pare de tomar a pílula” está colada em sua testa até hoje.

Seu novo disco, Dia 16, começa com a faixa que dá nome ao trabalho – a capa tem vários dias 16 importantes na história do mundo. E o início recheado de guitarras, bateria forte e um refrão forte dão o tom desse Odair José veterano que, enfim, pode ser melhor aceito pelo público mais jovem. Explorando o lado romântico, mas sem aquele quê do brega, "Encontro" tem uma letra e um ritmo empolgantes, e deve chamar atenção dos fãs mais antigos.

"Fera" tem aquele refrão forte, típico de canções feitas por Erasmo Carlos, por exemplo. Também tem certo apelo por tratar de um tema comum, no caso o romance entre duas pessoas. Mas espetacular, até engraçada, é "A Moça E O Velho", um baita tapa na cara do preconceito usando uma melodia simples, um riff e uma letra espetacularmente boa. Quem faz um refrão desses hoje em dia? Só Odair José para trazer esse tipo de discussão em uma música como há muito tempo não ouvia no Brasil.

Outra canção com bastante apelo popular, aliada com um arranjo muito bonito e simples, é "Me Desculpe", mais uma das românticas do álbum. Aliás, ela tem um ar anos 1970 muito bom porque não soa como velho ou reciclado, mas novo e interessante. O início de "Sem Compromisso" alia teclado, guitarra e um vocal muito bom por parte de Odair, que soa mais em forma do que nunca. E não basta colocar canções mais pesada, precisa usar um coral em "Lembro", canção em que a letra derrama solidão e tristeza, uma característica que sempre acompanhou em sua carreira.

Canções que traduzem bem o ritmo das pessoas são uma especialidade de Odair José. Quer um exemplo? "Começar Do Zero", ao falar da rotina, de relações entre as pessoas, do envolvimento de nós todos com a rotina, com a vida e tudo que agregamos com essas experiências, é uma das grandes músicas da carreira dele – é incrível como ela não está fazendo sucesso nas rádios brasileiras. Em seguida, vem uma aula de canção romântica: "Morro Do Vidigal" tem uma letra linda do início ao fim, outra que está na galeria das melhores que ouvi dele, que chega a arrepiar de tão sensacional.

Mais um rock na conta graças a "Deixa Rolar" e seu ritmo agradável para sair dançando por aí (ou na cadeira, dependendo do lugar de sua audição) muito por conta de seu ar extremamente pop – o vocal de apoio na parte final ajuda muito na definição desse conceito. O bom gosto e delicadeza do arranjo de "Sai De Mim", lembrando muito o trabalho de Paul McCartney em seus melhores momentos nos Beatles, são emocionantes por, de novo, trazer algo muito palpável para todos nós – nesse caso, alguém te faz mal e só te prejudica. O encerramento ("Cores") traz mais uma faixa recheada de romantismo, mas essa traz um tipo de esperança para quem teve um amor ruim no passado. O recado é: o amor sempre vence, não importa o quão sofrimento há.

Há muito tempo não me empolgava tanto com um disco nacional como esse. Aos 66 anos, Odair José conseguiu colocar no mercado um dos melhores discos de sua carreira, aliando tudo que ele fez nos últimos 40 anos. É um dos grandes trabalhos nacionais de 2015, merecendo mais espaço nas rádios, programas de TV e tudo mais, porque agradará a todo tipo de público.

Tracklist:

1 - "Dia 16"
2 - "Encontro"
3 - "Fera"
4 - "A Moça E O Velho"
5 - "Me Desculpe"
6 - "Sem Compromisso"
7 - "Lembro"
8 - "Começar Do Zero"
9 - "Morro Do Vidigal"
10 - "Deixa Rolar"
11 - "Sai De Mim"
12 - "Cores"

Nota: 5/5



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