Resenha: Muse – Drones


Recentemente, o blog trouxe uma revisão da discografia do Muse, e eu constatei o seguinte: ao longo de 16 anos de carreira, sendo 14 deles no mainstream, a banda moldou seu som para grandes arenas e espetáculos – um movimento semelhante ao do U2, por exemplo, anos antes. Para isso acontecer, mudanças aconteceram e refletiram no péssimo The 2nd Law, em que eles soam como uma reciclagem ruim de Queen, Pink Floyd, U2 e Coldplay.

Não deixa de ser interessante como eles, depois desse movimento, chamaram a atenção de gente mais velha, que curte algo mais clássico. Por isso, foi interessante acompanhar o processo de divulgação de Drones, sétimo disco de estúdio deles, colocado no mercado recentemente. De lançar clipes todos os dias a promoções nos sites, foi um ataque quase diário da máquina do marketing sobre o novo lançamento da banda. Só restava saber uma coisa: se era bom ou não.

"Dead Inside" mostra muito do que ouviremos ao longo de pouco mais de 50 minutos de audição: uma pegada futurista, herança do trabalho anterior, misturada com alguns bons momentos do Muse na carreira. Se "[Drill Sergeant]" é a fala de um sargento mandão, "Psycho" é recheada com guitarra alta, riff marcante e outro momento da banda que remete mais ao passado dos primeiros discos do que dos últimos – a faixa claramente é uma continuação da anterior.

O ar mais radiofônico de "Mercy" deve cativar os ouvintes pelo mundo, mas há um problema: esse refrão épico não desce legal. Eles vêm usando isso tão frequentemente nos últimos anos, que não soa natural quando colocam em uma canção, parecendo uma mistura péssima entre Coldplay e Queen. Quarta canção, "Reapers" traz mais peso nos instrumentos e um ar futurístico em uma letra que fala sobre o novo tipo de guerra (no caso, o uso de drones).

E depois de ser programado, o soldado vai à guerra em "The Handler", mais uma que traz o velho Muse de volta – o refrão instrumental consegue chamar atenção e prender o ouvinte por balancear bem a banda e os elementos usados na construção de tudo. Um trecho de um discurso de John F. Kennedy sobre a Guerra Fria é apresentado em "[JFK]", que abra caminho para "Defector", o momento da revolta e rebelião daquele cara programado para matar (a canção em si não impressiona muito, mas a capacidade do Muse em entrelaçar o conteúdo do disco é boa).

Não poderia de deixar de existir a revolta, no caso "Revolt". Mostrando ótima capacidade de fazer hits, o Muse conseguiu outra música de refrão grudento, extremamente pop, e empolgará os fãs nas apresentações ao vivo. O mesmo vale para "Aftermath", só que existe uma diferença fundamental entre elas: a primeira é muito superior que a segunda. E, sim, o tom épico mais atrapalha do que ajuda.

Uma introdução de três minutos é um recado sobre "The Globalist": é a música mais próxima do Pink Floyd que o Muse já fez em sua carreira. Seja pela duração, pelo efeito da guitarra distorcida ao fundo, seja pelo tom da letra, está claro que Matt Bellamy deseja dar um passo em sua carreira como letrista. A melodia ganha tons interessantes na segunda metade com a ação do piano e fica mais leve. Não tem jeito, essa é a grande música deles desse álbum e, ao emendar com “Drones”, é um baita encerramento.

O disco usa de um expediente que não é novo: pegar um tema específico e desenvolver letras e melodias a partir disso. Poderia ser melhor? Sim, sempre pode ser melhor. Mas é importante observar que o Muse está encontrando um ponto entre as canções épicas e a velha banda. É uma baita evolução se comparado com o anterior, mostrando que acomodação não é a palavra preferida deles.

Tracklist:

1 - "Dead Inside"
2 - "[Drill Sergeant]"
3 - "Psycho"
4 - "Mercy"
5 - "Reapers"
6 - "The Handler"
7 - "[JFK]"
8 - "Defector"
9 - "Revolt"
10 - "Aftermath"
11 - "The Globalist"
12 - "Drones"

Nota: 3,5/5


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