Resenha: John Patitucci Guitar Quartet - Brooklyn


Por Gabriel Carvalho 

John Patitucci, baixista nova iorquino nascido em 1959, possui uma sólida carreira – seja nos projetos solo ou como líder de banda, seja colaborando em estúdio (a lista inclui artistas como B.B. King, Chick Corea, Sting, Herbie Hancock, Wayne Shorter, Bon Jovi, entre outros). Considerado um dos grandes nomes do instrumento no cenário do jazz e do fusion, o músico lança Brooklyn sob o nome John Patitucci Guitar Quartet, grupo no qual ele tem a companhia dos guitarristas Adam Rodgers e Steve Cardenas, além do baterista Brian Blade.

Das onze faixas do registro, quatro são regravações: uma versão interessante de “Dugu Kamalemba”, originalmente gravada pela cantora Oumou Sangalé. Na execução do quarteto, sai o vocal e entra um trabalho primoroso de guitarra e baixo, enquanto a bateria é tocada com a sensibilidade necessária para ser a base para a turma das cordas brilhar.

Há também uma dobradinha de originais de Thelonious Monk: “Trinkle Tinkle” e “Ugly Beauty”. Com uma configuração de instrumentos diferente da usada por Monk, as regravações soam diferentes e ganham um “novo sabor”. Na primeira, mais um trabalho de cordas de encher os ouvidos – especialmente das guitarras de Rodgers e Cardenas; na segunda, Petitucci e companhia conseguem manter a sensibilidade da versão original – o solo do baixista no meio da faixa segue essa linha, sendo um momento de destaque.

Por fim, o músico também regravou “The Thumb”, originalmente composta e gravada por Wes Montgomery. Petitucci poderia partir para o óbvio e deixar que os guitarristas fizessem o trabalho. No entanto, ele optou por uma abordagem com o baixo protagonizando as ações, proporcionando ao ouvinte uma agradável surpresa.

Quando apresenta as próprias composições, o músico passeia por gêneros e ritmos com naturalidade. Na faixa que abre o disco, a excelente “IN9-1881/The Search”, percebe-se claramente a influência do fusion, com ritmos intrincados e virtuosismo das cordas – o solo do baixista e os dos guitarristas são aulas de bom gosto e precisão, sem os exageros comumente vistos no trabalho instrumental de outros músicos.

“Band of Brothers” é uma jam com doses de funk que soa muito parecida com trabalhos recentes de John Scofield. Mesmo com esta ressalva, não é uma faixa que deve ser descartada pelo ouvinte. “JLR”, com doses de blues e de soul e ótimos solos de guitarra, é mais um grande momento do disco. O jazz aparece com tudo em “Do You?”, que não somente é uma excelente canção, mas também é prova incontestável da técnica e da química entre os quatro músicos.

“Bells of Coutance” é um breve interlúdio instrumental com leves toques de psicodelia, enquanto “Go Down Moses” retoma influências do soul, desta vez combinadas com pitadas de gospel – combinação que gerou outra ótima faixa. “Tesori”, que fecha o álbum, é um momento solo de Petitucci. Nele, o baixista dá uma bela amostra do som que consegue tirar do baixo de seis cordas feito especialmente para ele.

Em um ano que tem sido bastante positivo para o jazz, com discos excelentes saindo do forno, Brooklyn já figura como um dos destaques do primeiro semestre e tem tudo para figurar entre os melhores do gênero em 2015.

Tracklist:

1 – “IN9-1881/The Search”
2 – “Dugu Kamalemba”
3 – “Band of Brothers”
4 – “Trinkle Tinkle”
5 – “Ugly Beauty”
6 – “JLR”
7 – “Do You?”
8 – “Bells of Coutance”
9 – “The Thumb”
10 – “Go Down Moses”
11 – “Tesori”

Nota: 4,5/5



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