Discos para história: Licensed to Ill, dos Beastie Boys (1986)


A 81ª edição do Discos para história será sobre Licensed to Ill, estreia dos Beastie Boys em estúdio e que, recentemente, chegou à marca dos 10 milhões de discos comercializados neste ano quase 30 anos depois de sua primeira prensagem.

História do disco

Para quem não conhece a história dos Beastie Boys, eles começaram como uma banda punk, abrindo shows para Reagan Youth, Bad Brains, Dead Kennedys e Misfits no finado CBGB – clube que foi casa, alguns anos antes, de Ramones, Blondie, Television, New York Dolls e outras bandas nascidas na metade final dos anos 1970. John Berry, Michael Diamond, Kate Schellenbach e Adam Yauch fizeram parte da primeira formação da banda, que mudaria com a saída de Berry. Adam Horovitz entrou no grupo no final de 1982.

Mas eles ficaram realmente conhecidos em 1983 quando gravaram a primeira faixa no estilo hip-hop. "Cooky Puss" foi um estouro nas casas noturnas de Nova York e nos clubes da dança. Ainda se colocando como uma banda punk, o Beastie Boys começou a colocar alguns raps em suas apresentações. Em uma delas, eles conheceram o então estudante Rick Rubin, ainda no início de sua carreira como produtor e fundador da Def Jam, gravadora que deveria lançar apenas bandas de rock e suas vertentes, mas colocou o hip-hop em seu leque no segundo ano de atividade – ele foi responsável pelo início da carreira de LL Cool J, por exemplo.

Aliás, Rubin sugeriu ao grupo entrar de cabeça no hip-hop e deixar o punk no passado. Isso não agradou Kate Schellenbach, que deixou o grupo. E só sobraram os três que formariam o trio Mike D, MCA and Ad-Rock. Em 1985, eles lançaram o EP Rock Hard, primeiro trabalho deles na Def Jam e o segundo de Rubin creditado como produtor (hoje, o disco original é considerado item de colecionador por ter o primeiro logo da gravadora estampado no vinil). Eles começaram abrindo os shows do Public Image Ltd., banda de John Lydon, ex-Sex Pistols. E encerraram o ano fazendo uma turnê com conjunto com Run DMC e LL Cool J, as atrações principais.


Nas paradas, os singles lançados por eles iam muito bem, "Hold It Now, Hit It", "She's on It" e "Paul Revere/The New Style", um vinil de 12", fizeram bastante sucesso nos meses finais, e isso deu impulso para o lançamento de Licensed to Ill, primeiro disco de hip-hop a chegar ao topo das paradas – ficou cinco semanas lá –, e foi o mais vendido do estilo nos anos 1980 (curiosidade: o crítico da Rolling Stone, na resenha, escreveu ‘three idiots create a masterpiece". A frase ficou famosa nos Estados Unidos). Um dos maiores sucessos do grupo, "(You Gotta) Fight for Your Right (To Party!)", saiu deste disco, e o clipe faz parte da cultura pop americana por retratar uma típica festa em Nova York.

Esse acabou sendo o primeiro e último disco dos Beastie Boys lançados pela Def Jam, pois eles romperam o contrato em 1988 e assinaram com a Capitol. Mas desde a capa com um Boeing 727 com o nome do grupo estampado até a concepção do álbum, essa estreia acabou sendo fundamental nas carreiras de Rick Rubin, Mike D, MCA e Ad-Rock, que firmaram seus nomes na música e voaram alto a partir dali.



Resenha de Licensed to Ill

Não precisa ser nenhum gênio para perceber que os Beastie Boys samplearam a bateria de John Bonham, do Led Zeppelin em "Rhymin & Stealin". Como as regras não eram tão rígidas como hoje, não houve problema. E é um belo começo para um disco. Segunda faixa, "The New Style" foi escolhido como segundo single de trabalho e conta bem com o estilo rítmico que marcaria o trio ao longo dos quase 30 anos de atividade.

Se tem uma canção desse álbum que é muito anos 1980 é "She's Crafty". Desde a batida até o estilo, ela tem tudo que o hip-hop apresentou em sua primeira grande leva de sucesso no mainstream, enquanto "Posse in Effect" é mais pesada é mais recheada com a mão do DJ e da produção. Escolhido para ser primeira canção de trabalho, "Slow Ride" tem uma influência latina na melodia, e o trio trabalha muito bem o revezamento das vozes – outra coisa marcante na carreira deles.



Caso a regra de samplers não fosse tão rígida como hoje, o Isley Brothers teria uns caraminguás para receber por "Girls", pois a semelhança com "Shout" é absurda. Mas ela é boa, animada e parece trilha de filme de comédia com John Candy. O grande single é "(You Gotta) Fight for Your Right (To Party!)". Nunca tocada ao vivo, ela virou o símbolo da primeira fase dos Beastie Boys, e realmente é uma paródia com alguns valores adolescentes. De tão importante, ultrapassou barreiras e é considerada uma das melhores canções de todos os tempos pela mistura entre rock e hip-hop e pelo andamento fantástico. E o solo de guitarra na segunda metade? É incrível!

Não se brinca com Motörhead, mas eles brincaram ao colocar o nome de "No Sleep till Brooklyn" na oitava faixa do álbum – uma homenagem ao disco No Sleep 'til Hammersmith. Aqui, o andamento hip-hop é mais evidente no início, e o solo de guitarra retorna com força na parte final. Utilizando a técnica para tocar parte da melodia ao contrário, auxiliada pela batida, "Paul Revere" é a história fictícia de como o trio se conheceu.

Uma questão: será que podemos chamar "Hold It Now, Hit It" de música ou de colcha de retalhos? Ela tem samplers de "La Di Da Di" (Doug E. Fresh e MC Ricky D.), "The Return of Leroy" (The Jimmy Castor Bunch), "Drop the Bomb" e "Let's Get Small" (Trouble Funk), "Funky Stuff" (Kool & The Gang), "Take Me to the Mardi Gras" (Bob James) "Christmas Rappin'" (Kurtis Blow). Ou seja, só mostra que o hip-hop sempre foi craque em desconstruir e remontar trabalhos mudando apenas o estilo. Gravada com uma bateria eletrônica auxiliando, "Brass Monkey", nome de uma bebida, é uma das rápidas canções gravadas pelo trio.



Por ser uma canção menos conhecida, "Slow and Low" pode parecer inofensiva, mas é uma verdadeira aula de como aliar elementos, base e ritmo em uma letra. Ela deveria ser objeto de estudo para quem gosta de ir à fundo na produção. "Time to Get Ill" encerra o trabalho de maneira simples e objetiva.

Uma estreia nunca é fácil, e os Beastie Boys conseguiram mostrar que mudar de estilo foi a melhor coisa que eles poderiam ter feito para si. Não dá para imaginar todo esse talento jogado fora em uma banda punk. E ainda bem que eles caíram na mão de Rick Rubin, um dos grandes produtores dos últimos 30 anos.



Ficha técnica

Tracklist:

1 - "Rhymin & Stealin"
2 - "The New Style"
3 - "She's Crafty"
4 - "Posse in Effect"
5 - "Slow Ride"
6 - "Girls"
7 - "(You Gotta) Fight for Your Right (To Party!)"
8 - "No Sleep till Brooklyn"
9 - "Paul Revere" (Adam Horovitz, Darryl McDaniels, Rubin e Joseph Simmons)
10 - "Hold It Now, Hit It"
11 - "Brass Monkey"
12 - "Slow and Low" (McDaniels, Rubin e Simmons)
13 - "Time to Get Ill"

Todas as canções foram escritas por Rick Rubin e os Beastie Boys, exceto as marcadas.

Gravadora: Def Jam
Produção: Rick Rubin e Beastie Boys
Duração: 44min33s

Michael "Mike D" Diamond: vocais e bateria
Adam "MCA" Yauch: vocais e baixo
Adam "Ad-Rock" Horovitz: vocais e guitarra

Convidados:

Kerry King: guitarra em "No Sleep till Brooklyn"
Keene Carse: trombone
Danny Lipman: trompete
Tony Orbach: saxofone

Veja também:
Discos para história: Funeral, do Arcade Fire (2004)
Discos para história: Help!, dos Beatles (1965)
Discos para história: Parallel Lines, do Blondie (1978)
Discos para história: On The Beach, de Neil Young (1974)
Discos para história: Led Zeppelin II, do Led Zeppelin (1969)
Discos para história: (What's the Story) Morning Glory?, do Oasis (1995)
Discos para história: Bringing It All Back Home, de Bob Dylan (1965)

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