Discos para história: Californication, do Red Hot Chili Peppers (1999)


A 60ª edição do Discos para história fala sobre Californication, sétimo trabalho de estúdio do Red Hot Chili Peppers. Depois do fracasso e dos problemas em One Hot Minute, a banda teve a volta de John Frusciante e Rick Rubin na produção para acertar em cheio a segunda geração MTV.

História do disco

O Red Hot Chili Peppers caminhava sem John Frusciante havia algum tempo. O guitarrista optou pela carreira solo e deixou a banda no início dos anos 1990, e Dave Navarro, então ex-Jane’s Addiction, para substituí-lo. Mas parecia que não havia a menor liga entre ele e a banda, e a apresentação no Reading Festival foi uma de várias coisas horríveis que eles fizeram no período.

Em 1998, enfrentando problemas com drogas, Navarro foi demitido da banda - a alegação de Anthony Kiedis era de que havia “diferenças criativas” entre eles. Enquanto isso, Frusciante enfrentava sérios problemas com o vício em heroína e sofreu um ultimato dos amigos: ou se internava em uma clínica, ou ele morreria em breve. O baixista Flea acompanhou tudo isso de perto e viu o drama do amigo.

No início desse mesmo ano, o guitarrista se internou e deu início ao tratamento. Meses depois, ele estava bem e pronto para trabalhar. A história mais popular sobre o assunto é que Flea encontrou Kiedis e disse que não haveria sentido algum em manter o RHCP sem o John Frusciante na guitarra. O pedido acabou sendo uma enorme surpresa para o vocalista – um dos motivos da saída era um desentendimento entre guitarrista e o líder do grupo.


Com tudo resolvido, o primeiro ensaio entre eles, Flea, Kiedis, Frusciante e o baterista Chad Smith, aconteceu na garagem da casa do baixista. E foi nesse clima de reencontro e paz e amor que rolaram as gravações de Californication. Basicamente, a ideia do trabalho surgiu à medida que o vocalista compunha às canções.

Produtor dos dois trabalhos antes desse, Rick Rubin quase havia sido dispensado pela banda, mas ele afirmou que eles, nesse retorno, precisariam fazer algo único, algo fora daquele momento em que o rock começava a ficar cada vez mais fora das paradas em detrimento das boy bands e de cantoras como Britney Spears e Shania Twain.

O trabalho chamou atenção dos donos da Warner Bros., que colocaram empenho pessoal para fazer a divulgação do disco. Lançado em 8 de junho de 1999, Californication foi um estouro de público e crítica. Para quem tem entre 21 e 26 anos, é um disco quase fundamental na formação musical por conseguir pegar toda uma nova geração de adolescentes que já cresceram com a MTV como parte do processo de formação, diferente da geração anterior.



Resenha de Californication

A linha de baixo inicial em "Around the World" já é melhor que quase todo disco anterior. Quando Anthony Kiedis entra gritando e demonstrando empolgação na faixa, dá para perceber que o ambiente era outro no grupo. Depois, a pegada com clima budista, ou algo do tipo, no refrão só complemente o estilo funk. Que belíssimo cartão de visitas. Já "Parallel Universe" tem um estilo bem interessante: ela se mantém até o momento que o vocal cresce naquela conhecida explosão, depois volta ao ritmo de antes com Flea arrebentando no baixo mais uma vez.

A balada "Scar Tissue" é sobre os problemas com drogas que os membros da banda enfrentaram durante os anos 1990 e fala sobre a vida em si, basicamente. Aqui, John Frusciante mostra o porquê de ser um dos grandes guitarristas de sua geração (volta, Frusciante). Também sobre problemas com drogas, "Otherside" é uma homenagem a Hillel Slovak, guitarrista original do RHCP que morreu em decorrência de uma overdose depois de usar uma alta quantidade de heroína. Ela é muito sensível em tratar da vida e da morte, e é uma das letras mais bonitas dos anos 1990.



De volta ao funk, "Get on Top" tem o que toda música do Chili Peppers deveria ter: guitarras distorcidas, baixo muito alto e feita para pular igual maluco no show. Uma das grandes músicas da última década do século 20, "Californication" é outra balada, mas tranquila e pautada pela suavidade, praticamente criando um clima psicodélico – o clipe da canção é, seguramente, um dos melhores já produzidos.

Depois de seis pedradas que viraram singles, Californication ganha outros tons. Começando com "Easily" e o retorno da marca da banda: a rapidez nos instrumentos e no vocal. A calmaria retorna na ótima "Porcelain", mostrando que era posssível colocar outra balada ainda mais tranquila do que as anteriores – nessa, a voz de Kiedis está ótima. "Emit Remmus", segundo algumas fontes, fala do relacionamento de Kiedis com Mel C, das Spice Girls. O trecho da letra que fala sobre Londres pode denunciar alguma coisa, mas nunca saberemos. Mas boa mesmo é "I Like Dirt", que lembra os momentos deles em Blood Sugar Sex Magik, outro grande trabalho – aliás, a geração anterior diz que esse, sim, é o melhor trabalho deles.



Talvez por ter faixas tão boas, "This Velvet Glove" acabou ficando um pouco de lado. Sua sonoridade mostra como os quatro funcionam absurdamente bem como banda no sentido de cada um fazer sua parte muito bem para construir uma coisa única. Outra muito boa que poucas pessoas dão valor é "Savior", com seu quê meio pop. O RHCP se especializou em fazer canções bem ritmadas, um exemplo é a dançante "Purple Stain", em que o baixo de Flea domina completamente a melodia. A rápida "Right on Time" passa como um furacão. Quando você vê, já está ouvindo "Road Trippin'", uma ótima balada sobre a vida e um ótimo encerramento para um grande disco.

Ao conseguir fazer um disco surpreendente e que pegasse a geração MTV do final dos anos 1990, o Chili Peppers conseguiu um segundo auge na carreira, algo improvável naquele momento em que a música estava perto de passar por uma mudança radical. Foi graças a Californication que parte da minha geração começou a amar música.



Ficha técnica

Tracklist:


1 - "Around the World"
2 - "Parallel Universe"
3 - "Scar Tissue"
4 - "Otherside"
5 - "Get on Top"
6 - "Californication"
7 - "Easily"
8 - "Porcelain"
9 - "Emit Remmus"
10 - "I Like Dirt"
11 - "This Velvet Glove"
12 - "Savior"
13 - "Purple Stain"
14 - "Right on Time"
15 - "Road Trippin'"

Todas as faixas foram compostas pelo Red Hot Chili Peppers.

Gravadora: Warner Bros.
Produção: Rick Rubin
Tempo: 56min24s

Anthony Kiedis: vocais
Flea: baixo e vocais de apoio
John Frusciante: guitarra, vocais de apoio e teclados
Chad Smith: bateria

Convidados

Greg Kurstin: teclado
Patrick Warren: órgão em "Road Trippin'"



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