Discos para história: Outlandos d'Amour, do Police (1978)


A 58ª edição do Discos para história conta como surgiu a estreia do Police em estúdio. E de como o trio formado pelo baixista e vocalista Sting, o baterista Steward Copeland e o guitarrista Andy Summers conseguiu ser uma das primeiras bandas da new wave a fazer sucesso.

História do disco

O Police surgiu depois de Steward Copeland e Sting trocarem telefones depois de uma apresentação de suas respectivas bandas – enquanto o baterista estava em um grupo de rock progressivo, o baixista estava tocando jazz fusion em bares da Inglaterra. Copeland ficou sem emprego após o encerramento das atividades e convidou o novo amigo para uma nova empreitada: um duo punk.

Sting ficou arredio no início, mas topou. Eles conheceram o guitarrista Henry Padovani e formaram um trio que gravou sua primeira demo em 1977. Eles saíram tocando por aí até que o baixista recebeu o convite para entrar no Strontium 90. E foi aí que apareceu a oportunidade. Como a banda estava sem baterista, Copeland foi chamado para completar o line-up que gravaria o primeiro disco, e lá eles conheceram Andy Summers. O grupo chegou a fazer várias apresentações no Reino Unido e uma em Paris, na França.

Aparentemente, havia tudo para o Strontium 90 fazer sucesso e ganhar muito dinheiro, mas Sting começou a ficar insatisfeito com Padovani. Aparentemente, o guitarrista não tinha a menor habilidade e técnica no instrumento, e isso estava atrapalhando o trio a dar passos mais largos na carreira. O baterista deu um ultimato ao guitarrista, mas ele não saiu de imediato. Foi no meio desse entrave que Summers entrou no Police – eles chegaram a se apresentar como um quarteto em 1977.

Veja também:
Discos para história: Let It Bleed, dos Rolling Stones (1969)
Discos para história: John Lennon/Plastic Ono Band, de John Lennon (1970)
Discos para história: Fresh Cream, do Cream (1966)
Discos para história: Beatles For Sale, dos Beatles (1964)
Discos para história: Harvest, de Neil Young (1972)
Discos para história: Traveling Wilburys Vol. 1, do Traveling Wilburys (1988)


Nos ensaios, eles tentaram vários tipos de música – de jazz ao punk passando pelo progressivo e pelo psicodélico –, mas nenhum funcionou da maneira ideal. Então, ao invés de tentar uma coisa só, eles resolveram misturar tudo e acrescentar reggae. Irmão de Copeland e empresário, Miles Copeland III disse que emprestaria o dinheiro para o primeiro álbum deles, mas mostrou-se cético com a entrada de Andy Summers no grupo. Ele queria um grupo punk, não essa “zona musical” que havia virado o Police.

Com um orçamento de £ 1.500, a gravação de Outlandos d'Amour foi uma das coisas mais difíceis que a banda passou. Sem recursos necessários para polir o som, gravar com bons equipamentos ou contratar um bom produtor, eles contaram com a ajuda de Chris e Nigel Gray, que conseguiram trabalhar no álbum nos períodos em que não havia ninguém no Surrey Sound Studios.

Tudo mudou com Miles ouviu pela primeira vez “Roxanne”. Rapidamente ele foi na A&M Records com a fita e pediu uma reunião com alguns executivos que conhecia, e eles toparam lançar a faixa em um compacto. O single não foi bem nas paradas, mas a gravadora deu outra chance ao grupo ao lançar "Can't Stand Losing You". Ao conseguir um bom lugar nas paradas, eles resolveram assinar contrato com o Police para lançar o primeiro disco deles.

Lançado em 1978, depois de algumas aparições deles em programas de TV e rádio, o álbum atingiu o sexto lugar nas paradas inglesas. Hoje, o trabalho é considerado um dos grandes álbuns dos anos 1970 e um dos expoentes da chamada new wave, em que músicos dos mais variados tipos apareceram nas paradas, enquanto veteranos sofriam para entender o movimento punk e essa nova onda na música.



Resenha de Outlandos d'Amour

A inspiração punk aparece logo em "Next to You", primeira canção do disco. A faixa não nasceu agressiva e era para ser uma balada romântica escrita por Sting, mas Andy Summers e Stewart Copeland vetaram e sugeriram a mudança na letra, que foi vetada pelo baixista. Aqui eles selaram o primeiro de muitos acordos – não mudaram a letra, apenas aceleraram o ritmo.

Já a influência reggae aparece na melodia de "So Lonely", um dos grandes sucessos do grupo – o solo de guitarra como ponte entre a primeira e a segunda metade é certeiro. Sting confessou certa vez que usou “Woman No Cry”, de Bob Marley, como base. Aqui, a barreira de ser uma banda punk estava quebrada, e isso seria fundamental para o sucesso deles nos anos seguintes. Na canção seguinte, “Roxanne”, a ideia de Sting era fazer uma bossa nova, mas Copeland vetou e pediu mais uma mudança de ritmo – algo mais empolgante e cheio de energia. Ele acertou. A letra, inspirada em uma prostituta que o baixista observou pelas ruas em Paris, ganhou muito com a melodia mais acelerada.

Já “Hole in My Life” é uma mistura de jazz fusion com progressivo e reggae. Parece uma bagunça, mas o resultado é muito bom. A veia punk do Police retorna em "Peanuts", o encerramento do lado A e primeira de duas faixas que Sting dividiu os créditos de composição com outro membro do grupo.



Na abertura do lado B temos "Can't Stand Losing You", banido da BBC por ter como capa Copeland simulando um enforcamento. Passado o problema, foi a primeira canção da banda a conseguir chegar ao top-50 das paradas. Aqui temos, com mais afinco, a mistura entre reggae e guitarras que marcou a curta carreira do Police. A melodia e letra rápidas voltam na ótima "Truth Hits Everybody" – curta, mas igualmente empolgante.

Com um estilo mais pop, "Born in the '50s" ainda tem um quê de reggae, mas o som parece mais moldado, o oposto de "Be My Girl – Sally", canção que remete à linha punk do início da banda – o meio é bem estranho. Por fim, "Masoko Tanga" é um reggae ao estilo Police, o que é bem incomum, apesar do ritmo ter pautado boa parte da carreira do grupo.

O primeiro disco do Police serviu de influência para diversas bandas, brasileiras ou não. Seria o primeiro de cinco álbuns de estúdio do grupo, e foi aqui que eles definiram o som. O trio durou menos de uma década, mas seu debut é um exemplo de trabalho duro, perseverança e de como não é necessário tocar o que está na moda para fazer sucesso.



Tracklist:

Lado A

1 - "Next to You"
2 - "So Lonely"
3 - "Roxanne"
4 - "Hole in My Life"
5 - "Peanuts" (Sting/Stewart Copeland)

Lado B

1 - "Can't Stand Losing You"
2 - "Truth Hits Everybody"
3 - "Born in the '50s"
4 - "Be My Girl – Sally" (Andy Summers/Sting)
5 - "Masoko Tanga"

Todas as canções foram escritas por Sting, exceto as faixas cinco do lado A e quatro do lado B.

Ficha técnica

Gravadora: A&M
Produção: The Police
Tempo: 38min14s

Sting: baixo, vocais, vocais de apoio e gaita em "So Lonely"
Andy Summers: guitarra, vocais de apoio e piano em "Sally"
Stewart Copeland: bateria, percussão e vocais de apoio

Convidados:

Joe Sinclair: piano em "Hole in My Life" e "Masoko Tanga"

Me siga no Twitter e no Facebook e assine o canal no YouTube. Compre livros na Amazon e fortaleça o trabalho do blog!

Saiba como ajudar o blog a continuar existindo

Gostou do post? Compartilhe nas redes sociais e indique o blog aos amigos!