Discos para história: Screamadelica, do Primal Scream (1991)


Na 59ª do Discos para história, uma homenagem ao guitarrista Robert “Throb” Young, ex-Primal Scream, que morreu nesta semana. Nada melhor do que falar sobre a obra-prima da banda e um dos discos mais importantes dos anos 1990: Screamadelica.

História do disco

Falar sobre Screamadelica é contar um pouco da história do acid house, submovimento da música eletrônica que começou em Chicago nos anos 1980 e ganhou o mundo ao longo da década. Claro que Londres teve seu momento na cena, e isso foi fundamental na consolidação de certos fatores para a construção do principal disco do Primal Scream.

O grupo estava começando a ficar mais conhecido no mainstream graças ao DJ Andrew Weatherall, que mixou "I'm Losing More Than I'll Ever Have" com algumas canções já conhcidas, inclusive a trilha do início do filme Os Anjos Selvagens, com Peter Fonda. A faixa atingiu o 16º lugar das paradas inglesas. Com as raves crescendo, um estilo musical sendo consolidado, estava na hora de fazer alguma coisa nova – nem que isso significasse se afastar da cena indie.

A intenção do grupo era misturar elementos e influências no novo trabalho de estúdio. Então surgiu a ideia de chamar Weatherall e Terry Farley como para produzir e tentar algo diferente. E assim nasceu Screamadelica. Até o início dos anos 1990, não havia uma regra estabelecida pera samplers e similares, assim era uma festa ver trechos de canções de artistas consagrados em discos de outras pessoas. Por exemplo, "Damaged" se parece muito com uma canção produzia por Jimmy Miller ou "Movin' on Up", associada aos Rolling Stones e ao Can.


O sucesso dos singles "Higher Than The Sun" e "Don't Fight It, Feel It" motivaram ainda mais o Primal Scream a ousar no repertório, como usar cantoras em uma faixa, mais instrumentos em outra, mais camadas na seguinte. Enfim, o álbum é exatamente o retrato de uma época, de uma cena, de um momento específico de mudança na música na transição entre o final dos anos 1980 e início dos anos 1990, quando a música eletrônica começou a invadir as pistas.

O LP chegou ao oitavo lugar nas paradas e ganhou a primeira edição do Mercury Prize, que premia o melhor disco lançado no Reino Unido. Os escoceses do Primal Scream mal sabiam, mas isso mudaria completamente a carreira deles.



Resenha de Screamadelica

Quem disse que "Movin' on Up" tem um estilo Rolling Stones foi na mosca. Realmente, não fosse a voz, acharia que Mick Jagger entraria a qualquer momento na canção com coral (!) e solos de guitarra (!!). Bobby Gillespie está muito bem nessa faixa bem pop e acessível ao público de rádio.

"Slip Inside This House" é a única em que o guitarrista Robert Young canta, e é bem perceptível a mudança de caminho nesse trabalho. Saem as guitarras e refrãos fáceis, entra uma melodia cheia de camadas e influência da música indiana com toques de eletrônico. Ela foi feita para dançar durante aquela rave maneira, assim como "Don't Fight It, Feel It" – essa ainda mais do que a anterior. Aqui, ao que parece, a mão da produção pesou bastante. E o claro destaque vai para o vocal de Denise Johnson, que manda e desmanda na letra. Absurdo essa voz.

Já "Higher Than the Sun" parece ter sido tirada de alguma sessão psicodélica dos anos 1960 ou 1970, porque é exatamente o que parece ser: uma jam que ganhou vida com uma produção e toques de música eletrônica. Um exemplo de como é possível misturar elementos na construção de algo instrumental belíssimo é "Inner Flight", uma das melhores canções da banda. Ela diz muito sem falar uma palavra.



A versão inglesa de "Come Together" abre com o famoso discurso de Jesse Jackson no Wattstax Music Festival de 1972, assim a melodia é tocada. Com seus momentos épicos em que o vocal feminino duplicado domina. Outra música importantíssima do disco. Mas clássico mesmo é o carro-chefe "Loaded", uma espécie de gospel experimental muito bonito, é uma dessas que deveria tocar em qualquer festa sempre.

Mais com quê de balada com seu violão, "Damaged" merece bastante atenção de quem está começando a descobrir a música agora por ser uma boa inspiração de canção pop que não fica velha nunca. É perceptível a diminuição do ritmo nas duas últimas, e "I'm Comin' Down" prossegue isso com suas nuances experimentais com ritmos indianos.

Outra que parece ter sido feita para agradar multidões é "Higher Than the Sun (A Dub Symphony in Two Parts)", que joga a delicadeza dos elementos eletrônicos na sua cara e mostra a ousadia de uma banda escocesa em mudar de rumo. Para encerrar, "Shine Like Stars" parece ter uma coisa meio Beatles fase indiana. Um ótimo final.



Ficha técnica

Tracklist:

1 - "Movin' on Up"
2 - "Slip Inside This House" (Roky Erickson/ Tommy Hall)
3 - "Don't Fight It, Feel It"
4 - "Higher Than the Sun"
5 - "Inner Flight"
6 - "Come Together"
7 - "Loaded"
8 - "Damaged"
9 - "I'm Comin' Down"
10 - "Higher Than the Sun (A Dub Symphony in Two Parts)"
11 - "Shine Like Stars"

Todas as canções foram escritas por Bobby Gillespie, Andrew Innes e Robert Young, exceto a faixa dois.

Gravadora: Creation Records
Produção: The Orb, Hypnotone, Andrew Weatherall, Hugo Nicolson e Jimmy Miller
Tempo: 62min52s

Bobby Gillespie: vocal
Andrew Innes: guitarra
Robert Young: guitarra e vocal em "Slip Inside This House"
Martin Duffy: teclado e piano
Henry Olsen: baixo e guitarra em "Damaged"
Phillip "Toby" Tomanov: bateria e percussão

Convidados:

Denise Johnson: vocal na faixa 3
Jah Wobble: baixo na faixa 10



Veja também:
Discos para história: Outlandos d'Amour, do Police (1978)
Discos para história: Let It Bleed, dos Rolling Stones (1969)
Discos para história: John Lennon/Plastic Ono Band, de John Lennon (1970)
Discos para história: Fresh Cream, do Cream (1966)
Discos para história: Beatles For Sale, dos Beatles (1964)
Discos para história: Harvest, de Neil Young (1972)

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