Resenha: John Grant – Grey Tickles, Black Pressure


O ótimo Pale Green Ghosts conseguiu colocar John Grant em destaque em várias listas de melhores discos daquele ano. E esse segundo trabalho solo foi a consolidação de uma carreira que começou na banda The Czars e saiu em busca de algo a mais em 2010, ano de lançamento de Queen of Denmark. Sem colocar um álbum ruim no mercado, Grant tem essa missão em Grey Tickles, Black Pressure.
  • Gravadora: Bella Union
  • Lançamento: 9 de outubro
  • Produção: John Congleton
  • Duração: 57min23
"Intro" traz um início com um versículo da Bíblia (Coríntios 13: 4-7) de um jeito psicodélico e estranho, mas funciona para abrir bem o trabalho, que começa mesmo na faixa-título. E é nela que John Grant conta um pouco de sua vida, como ser HIV positivo, quando seu tio Paul morreu enquanto usava um moedor de milho e usa várias referências do mundo atual para amarrar o enredo, uma história de dor e sofrimento emocional. O estilo da melodia, mesclando elementos acústicos e arranjos de corda, consegue colocar o ouvinte dentro desse clima de pura tristeza.

De pegada bem mais eletrônica e dançante, "Snug Slacks" coloca o ouvinte para relaxar um pouco depois do início pesado e cheio de reflexões, e "Guess How I Know" retorna com uma espécie de desabafo sobre um acontecimento na Alemanha e mescla mais os elementos usados nas três canções anteriores – o refrão soa o ápice disso tudo. Outra de ritmo dançante, "You & Him" é cheia de referências da cultura pop e acusações ao suposto parceiro, em uma das faixas mais cheias de ironia do disco.

Candidata a ser uma das melhores canções do ano, "Down Here" tem um dos melhores versos do ano (Cause all we're doing is learning how to die/Do you really think that nobody see's the fear behind your smile?/And why do you care what anybody thinks at all/It's all going to the same thing in the end) e um dos melhores refrãos And what we got down here is oceans of longing/And guessing games, and no guarantees/And you work so hard to be in control/And now you're laughing at yourself because you can't let go). Porém uma pena que, logo na sequência, a tentativa de rap "Voodoo Doll" não seja das melhores coisas para ouvir.

"Global Warming" cita o Brasil na letra (Global warming is ruining my fair complexion/Augmenting all my imperfections/And Brazil does not need more encouragement/Global warming encourages slack jawed troglodytes/To leave their homes with guns and knives/In search of bodily refreshments and some homicide) e até busca um tipo de reflexão (All I've got are first world problems/I guess I better get some more third world kind), mas mal sabe ele os nossos problemas... E "Magma Arrives" é uma pedrada ao usar um herói de pano de fundo para falar sobre a vida em uma das mais complexas canções do disco.

Os efeitos e uso da eletrônica ajudam a construir um clima macabro em "Black Blizzard", a grande música obscura e beirando um metal eletrônico, e "Disappointing" cita várias coisas, locais e escritores e filósofos para mostrar como a vida não é nada sem a pessoa amada, apenas uma coleção de desapontamentos. A melancolia reina nas melodias e nas letras de "No More Tangles" e "Geraldine", com a diferença que o primeiro pega um aspecto geral, enquanto o segundo usa um personagem e conta uma história – curiosamente, as duas têm mais de seis minutos.

A última faixa, “Outro”, nada mais é que a repetição dos versos do início, só que na voz de uma criança. E o recado é claro: o amor nunca falha. E quem também não falha é John Grant, que conseguiu fazer outro disco espetacular em sua curta carreira solo. Cheio de referências, desabafos, amores e desamores, ele pinta como um dos grandes compositores nessa nova década dos anos 2000.

Tracklist:

1 - "Intro"
2 - "Grey Tickles, Black Pressure"
3 - "Snug Slacks"
4 - "Guess How I Know"
5 - "You & Him"
6 - "Down Here"
7 - "Voodoo Doll"
8 - "Global Warming"
9 - "Magma Arrives"
10 - "Black Blizzard"
11 - "Disappointing"
12 - "No More Tangles"
13 - "Geraldine"
14 - "Outro"

Nota: 4,5/5



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