Todo mundo precisa de um descanso alguma vez na semana. E de boas férias longas também. Na música, não é incomum vários artistas anunciarem hiato dos projetos principais para embarcar em outras aventuras simplesmente pela diversão e sem qualquer tipo de pressão por resultados. Com o Radiohead de folga, a banda The Smile nasceu para ocupar as cabeças de Thom Yorke e Jonny Greenwood, com uma ajudinha do baterista Tom Skinner. Mas em “Cutouts”, terceiro álbum da discografia e segundo de 2024, eles dão um alô para quem estava com saudade do grupo.
O início etéreo de “Foreign Spies” é um bom prenúncio do que vem por aí no terceiro disco de estúdio. Composta inteiramente por Greenwood no sintetizador, é uma faixa de delicadeza ímpar e traz uma certeza: as ideias deles parecem não cessar; E todo veículo para transmissão dessas ideias é válido, ainda que traga comparações com o passado.
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À medida que o disco avança, dá para perceber como as músicas não têm muita lógica no trabalho, mas acabam funcionando nesse pacote. “Instant Psalm”, apesar de delicada, nasceu para ser grandiosa graças aos arranjos de corda e “Zero Sum” usa o naipe de cordas com o sintetizador para uma grande faixa dançante, de refrão grudento e cheia de energia. E o lado (ainda mais) experimental surge “Colours Fly”.
Quando “Eyes & Mouth” começa, é perceptível ouvir como eles estão se divertindo no The Smile, como virou algo para ir além de qualquer coisa que eles tenham feito na carreira. O tom épico da faixa surpreende, assim como a parte instrumental. Aliás, esse momento grandioso aparece novamente em “Don't Get Me Started”, com os sintetizadores, ecos e piano trabalhando muito para criar o clima da faixa.
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O lado mais cru do álbum aparece quando o piano é o grande destaque e trabalha com um belo arranjo de cordas (“Tiptoe”) e, ainda que só nos momentos finais, a guitarra não fica de fora (“The Slip”). Claro que o lado esquisito, estranho e pouco comum têm espaço, preenchido em “No Words” — e não poderia faltar, certo? E “Swaying side to side/ Jaws are open wide/ Hid under my hat” abre “Bodies Laughing”, a última música do álbum, mais uma mescla do acústico com o eletrônico, o equilíbrio entre o antigo e o novo.
A experiência em acompanhar o trio é cada vez mais fascinante ao longo dos meses. O projeto para ocupar a cabeça virou algo grandioso e cheio de expectativa, muito pela falta do Radiohead. Talvez o intuito não fosse esse, de chamar tanta atenção como tem acontecido, mas agora é tarde. “Cutouts” prova que uma folga para arejar as ideias pode ser a faísca para algo novo, acima da média e com resultados positivamente inesperados.
Ficha técnica
Tracklist:
1 - “Foreign Spies”
2 - “Instant Psalm”
3 - “Zero Sum”
4 - “Colours Fly”
5 - “Eyes & Mouth”
6 - “Don't Get Me Started”
7 - “Tiptoe”
8 - “The Slip”
9 - “No Words”
10 - “Bodies Laughing”
Gravadora: XL
Produção: Sam Petts-Davies
Duração: 43min54
Avaliação: ótimo
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