O rock sempre foi algo para gente jovem. Bastar olhar quem gosta do gênero e perceber que a pessoa ainda ouve as mesmas bandas desde quando tinha 11, 12, 13 anos. Mas, como tudo na vida, o novo sempre vem e a renovação é inevitável, apesar dos protestos das pessoas mais velhas e presas à imaginação de um passado glorioso que só existiu na mente lavada por teorias malucas e pessoas com mais de uma má intenção. Um dos bons grupos surgidos recentemente foi as Linda Lindas.
Formado pelas adolescentes Bela Salazar, Eloise Wong e as irmãs Lucia e Mila de la Garza, elas chegaram com tudo no álbum de estreia, “Growing Up”, de 2022. E tal qual um foguete, seguam subindo em “No Obligation”, segundo trabalho de estúdio. A faixa-título já mostra todo potencial delas, sem medo de ser o mais pesado possível do início ao fim para mostrar que não estão de brincadeira e podem encarar qualquer um igualmente. Mas elas não são só isso.
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As dançantes “All in My Head”, com um refrão grudento e uma aula de pop rock, e “Lose Yourself” mostram como essa nova geração não tem medo de arriscar em ir para o lado que os satisfaça artisticamente, sem se importar com a pressão pelo sucesso vinda da gravadora, dos fãs ou da imprensa especializada. Elas têm algo importante e fundamental para sobrevivência em um meio tão cruel: coragem.
“Too Many Things” e “Once Upon a Time” mantêm a força e embalo do trabalho, em uma sequência que traz para perto o tom pessoal da angústia e indecisão adolescente em meio aos hormônios borbulhando e com todos os sentimentos dando às caras ao mesmo tempo. E como filhas de imigrantes, ainda lutando contra todo preconceito do americano médio, elas não esquecem das origens na faixa em espanhol “Yo Me Estreso” (“Yo me estreso, yo lamento/ Lo que siento en este/ Mucho pienso y comienzo/ A tomar decisiones que no son/ Cuando creo lo que no debo/ Mi mente se va y empieza/ En mi mente yo empiezo/ A hacer escenarios que ni han”).
Um dos pontos fortes é a simplicidade das letras e melodias, exemplificadas na sequência formada por “Cartographers”, “Don't Think” (“Don't think too much about it/ I've been a little far/ Don't be overdramatic/ I scream to make them see me in the dark/ Don't think too much about it/ I've been a little far/ Don't think that I don't get it/ Maybe I play too many parts”) e “Resolution/Revolution”, provando que o rock é para ser fácil e quem dificultou (estou olhando para você, rock progressivo) pensou apenas em si, não na música.
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“An old game of hide-and-seek/ Falling in and out of trees/ I guess that's how you knew me/ Is that how we used to be?” abre a reflexiva “Nothing Would Change”, quando a chegada a fase adulta está cada dia mais próxima e vem com vários desafios, já o grito de desabafo de “Excuse Me” chega para mostrar a força delas também no gogó — e no peso das guitarras. E o disco encerra com a delicada pancada de “Stop”.
É difícil não ficar empolgado com “No Obligation” ao final da audição e não parar de ouvir não é uma decisão muito simples. As Linda Lindas provam que o rock com alguma relevância no cenário atual é feminino, jovem, feminista e vem das famílias de imigrantes. Torcer por mais virou obrigação de quem gosta.
Ficha técnica
Tracklist:
1 - “No Obligation”2 - “All in My Head”
3 - “Lose Yourself”
4 - “Too Many Things”
5 - “Once Upon a Time”
6 - “Yo Me Estreso”
7 - “Cartographers”
8 - “Don't Think”
9 - “Resolution/Revolution”
10 - “Nothing Would Change”
11 - “Excuse Me”
12 - “Stop”
Gravadora: Epitaph
Produção: Carlos de la Garza
Duração: 35min22
Avaliação: ótimo
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