Crítica: Kim Gordon - The Collective

Kim Gordon é uma pessoa da criação artística, independentemente do meio escolhido para fazer isso. Da moda até as artes plásticas, ela acabou escolhendo a música como principal veículo para formatar e divulgar as próprias ideias. Ela não tem medo de ir a fundo em escolhas sonoras e opta por um caminho experimental e desafiador aos ouvidos mais sensíveis, sendo praticamente impossível defini-la em um gênero musical, apesar de estar há mais de 40 anos na indústria.

Por incrível que pareça, “The Collective”, sucessor de “No Home Record” é apenas o segundo trabalho solo de Gordon após o fim do Sonic Youth. Ao longo dos anos, ela preferiu fazer trabalhos em colaboração com outros artistas, como em “At Issue” e nas bandas Body/Head e Glitterbust. Como não tem medo de experimentar, ela abre com “Bye Bye”, uma faixa pesada, um industrial misturado como hip-hip, algo inédito na discografia.

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A partir disso, o ouvinte tem uma escolha: abandonar o álbum e choramingar o retorno do Sonic Youth nas redes sociais ou continuar. Caso opte pela segunda, “The Candy House” e “I Don't Miss My Mind” dobram a aposta no uso do sintetizador, sendo difícil não pensar em Prodgy e Nine Inch Nails como referências mais óbvias, passando pelo krautrock dos anos 1960. Em “I'm a Man”, ela usa toda essa força para fazer uma ironia sobre como a falta de preparo no mercado de trabalho e na educação dos homens nunca é um problema, enquanto é para as mulheres.

As seguintes, “Trophies” e “It's Dark Inside”, são difíceis de explicar, tamanha mistura de sonoridades e experimentos feitos, quase como se ambas ainda estivessem incompletas de alguma maneira. É um meio caminho entre o avant-garde e o trap, com muito barulho. E ela dobra a aposta na sequência formada por “Psychedelic Orgasm” e “Tree House”, quando ela flerta com o hip-hop dos anos 1980 e o trap dos anos 2010.

A guitarra só aparece com algum destaque em “Shelf Warmer”, mostrando que Gordon não estava para brincadeira quando resolveu fazer um álbum muito diferente de qualquer coisa do passado. Ainda mais estranha e distorcida é o final com “The Believers” e “Dream Dollar”, faixas que deixariam John Cage orgulhoso.

Se Yorgos Lanthimos tivesse convidado Kim Gordon para escrever a trilha sonora de “Pobres Criaturas”, com certeza “The Collective” seria o trabalho ideal. Intenso e esquisito na mesma medida, ela parte para o experimental como nunca havia feito até esse momento da vida. Sem soar pedante, não é para qualquer um, sendo desses trabalhos difíceis de gerar qualquer consenso ao final da audição. Ao fazer isso, ela se liberta cada vez mais das amarras do passado e parte para outra, com resultados positivos para quem gosta desse tipo de sonoridade.

Tracklist:

1 - “Bye Bye”
2 - “The Candy House”
3 - “I Don't Miss My Mind”
4 - “I'm a Man”
5 - “Trophies”
6 - “It's Dark Inside”
7 - “Psychedelic Orgasm”
8 - “Tree House”
9 - “Shelf Warmer”
10 - “The Believers”
11 - “Dream Dollar”

Avaliação: ótimo

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