Crítica: Os Irmãos Sparks, de Edgar Wright

"A banda favorita da sua banda favorita". Não sei quem foi a pessoa que escreveu essa frase, mas descreve com clareza a discografia dos Sparks, duo formado pelos irmãos Ron e Russell Mael, ao longo de mais de 50 anos de carreira. A história deles foi contada no documentário "Os Irmãos Sparks", disponível no Brasil no Star+, pelo diretor Edgar Wright, também fã como muitas outras pessoas de sucesso na música e no cinema nos últimos anos.

O longa já começa com depoimentos de fãs famosos que conheceram a música da dupla feita em momentos diferentes da vida de cada um em uma edição engraçada, principalmente com os dois irmãos em tela, que prende do espectador ao longo de mais de duas horas. Depois, caímos na história de vida deles: unidos, iam ao cinema com os pais para assistir a filme disponível no momento, no começo ou não. Era o início da construção do lado artístico nunca deixado de lado. 

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Quando se interessaram por música, foi um caminho sem volta. E, diferentemente de outros adolescentes em meados dos anos 1960, tiveram o apoio da mãe. Com a morte repentina do pai, a união deles ficou mais forte e fazer sucesso com a própria virou um objetivo a ser conquistado. Foi aí que as coisas deram errado, mas acabaram dando certo.

O errado foi a falta de venda dos álbuns, produzidos por gente da pesada, como Todd Rundgren e outros. Por mais que qualquer gravadora fosse diferente de hoje em dia, em que só os números realmente importam em detrimento de qualquer qualidade música, havia um limite para os fracassos. Mesmo com um sucesso aqui e ali, nada durava muito.

O que acabou dando certo foram as constantes mudanças de rumos musicais, algo feito por eles desde sempre. Um álbum ia razoavelmente bem? O próximo seria praticamente o oposto disso. Assim, ao longo das décadas, os Sparks conquistaram fãs apaixonados por fases diferentes. E acabaram influenciando dezenas de bandas e músicos, principalmente com o som do teclado na onda da new wave e da música dos anos 1980 — tem um causo muito bom envolvendo o Pet Shop Boys.

Nem mesmo a pausa forçada no início dos anos 1990 e um período difícil fizeram os irmãos abandonarem as próprias convicções musicais, algo raro de se ver em uma indústria cada vez mais cruel e cada vez mais ingrata com artistas veteranos. O retorno triunfal em 1994 fez ressurgir o interesse na dupla, que avançou até os anos 2000 sob merecidos aplausos. Para a geração atual, o interesse veio na parceria com os escoceses do Franz Ferdinand no álbum "FFS", de 2015.

Admirados por todos e presença frequente nos grandes festivais pelo mundo, os Sparks são algo raro na indústria: um projeto duradouro, de discografia musicalmente inconstante e com uma base de fãs entre os 20 e 60 anos. Em "Os Irmãos Sparks", eles têm a história contada por um fã que rasga elogios aos dois, assim como todos os outros convidados. Não há nem mágoa entre aqueles que acabaram sendo demitidos. Afinal, só a música importa e ninguém se importa mais com música do que os irmãos Ron e Russell Mael.

Avaliação: ótimo

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