Crítica: Som na Faixa (Netflix)

No final de 2022, a Netflix disponibilizou a minissérie de seis episódios chamada "Som na Faixa", baseada no livro "The Spotify Play", que apresenta a história da criação do serviço de streaming sob a perspectiva dos principais agentes: Daniel Ek, o idealizador de tudo; a indústria da música (representada por Per Sundin, então CEO da Sony Music na Suécia); a talentosa advogada pragmática Petra Hansson; o programador e idealista Andreas Ehn; o sócio e primeiro investidor Martin Lorentzon; e os artistas, representados pela cantora Bobbi T.

Ao longo dos episódios, com pouco menos de uma hora cada, vemos como cada personagem tem uma visão completamente diferente sobre a criação do Spotify, na Suécia, em meio a queda no lucro da indústria da música de maneira geral. Por um lado, Ek é tratado como um grande visionário idealista que viu na criação do streaming uma maneira de frear a pirataria no auge do Pirate Bay e dar controles aos artistas sobre o próprio conteúdo; do outro, também foi alguém convencido a ser pragmático para atender as exigências das gravadoras e deixar de lado o sonho de um serviço aberto e menos opressor. 

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A direção de cada episódio ajuda a entender como a indústria da música é complexa e o modelo de negócio do Spotify pode não se sustentar no longo prazo. Mas "Som na Faixa" demora um pouco para falar de números e foca mais nas pessoas e em como esse grupo particular se juntou. Todos foram convencidos por Ek, de alguma forma, de que estavam fazendo história e acabaram entrando no negócio. Das dificuldades em colocar o projeto de pé pelas exigências do cofundador até a luta pelos diretos das músicas, cada personagem aponta as qualidades e os defeitos, neles mesmos e na nas outras pessoas, em fazer parte dessa empreitada.

O melhor episódio da série é o terceiro, chamado "A Lei". Com a advogada Petra Hansson como personagem principal, é possível entender melhor a disputa com o Pirate Bay, site que disponibilizava arquivos de músicas e filmes de graça, do ponto de vista jurídico. A indústria da música tem contratos muito bem amarrados para obter o máximo de lucro possível em todas as áreas — hoje, as gravadoras estão perto de retornar o patamar de lucro do início dos anos 2000, último período antes da vertiginosa queda da venda de CDs e anos consecutivos de prejuízos milionários. E, claro, o último episódio, o mais ficcional de todos, imagina uma disputa jurídica entre Spotify e artistas, que buscam uma melhora na parte que lhes convém.

"Som na Faixa" é uma série boa para mostrar como Ek pode ser enquadrado no mesmo nível de Steve Jobs, Mark Zuckerberg e Bill Gates ao ter previsto o futuro antes mesmo de o futuro existir. Mas o que deveria ser um site livre para ouvir música, acabou se tornando mais um meio de lucro para praticamente todos os envolvidos, menos os artistas. A história tenta emular um pouco "A Rede Social", filme de David Fincher, mas é apenas uma sombra disso. Mas saber como o Spotify foi criado é importante, assim como a discussão fundamental sobre os direitos dos artistas.

P.S.: Recentemente, a empresa sueca teve uma perda operacional de 247 € milhões (quase R$ 1,2 bilhão), com o último lucro acontecendo no terceiro trimestre de 2021.

Avaliação: bom

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