Resenha: Pistol, de Danny Boyle

Os anos 1970 foram muito difíceis para uma geração inteira. Crises econômicas e faltas de emprego e perspectiva jogaram muitos jovens no limbo. Afinal, haveria futuro para eles? Foi quando surgiu o punk e tudo mudou. Agora, eles davam as cartas e exigiam participar de tudo - nem que fosse para colocar fogo. Na música, como um furacão, surgiu o Sex Pistols. É essa história que "Pistol", disponível no Star+, conta.

Baseado no livro "Lonely Boy: Tales from a Sex Pistol", do guitarrista Steve Jones, a série de seis episódios o traz como protagonista - afinal, a história é baseada na vida dele. Jones é mostrado exatamente como aqueles jovens: sem perspectiva e ainda era abusado pelo padrasto. E um ladrão desde a infância. E quase um maníaco por sexo.

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Assim que conhece o empresário, artista e dono da butique SEX Malcom McLaren, a vida dele muda completamente porque o então visionário tinha um plano: queria, quase literalmente, colocar fogo em Londres. E nada melhor do que criar uma banda de rock para ser o veículo dessas ideias. Assim, nasceu o Sex Pistols com Jones, Johnny Rotten, Paul Cook e Glen Matlock, substituído futuramente por Sid Vicious.

Ao longo da história, podemos ver como eles deixaram de ser péssimos músicos para se transformarem em músicos medíocres que incendiavam as apresentações e compravam qualquer briga - não havia um dia sem uma confusão os envolvendo. De cuspes a guitarradas na cabeça dos fãs mais agitados até sair na porrada com moradores das cidades do interior, o Sex Pistols colocou fogo (não literalmente) no mainstream britânico de todas as maneiras. Já no bastidores, a guerra entre Jones e Rotten pelo controle criativo do grupo aumentava a cada dia (spoiler: nenhum dos dois estava no controle).

Os episódios são muito bem dirigidos por Boyle, que usa câmeras e filtros específicos para acentuar determinados momentos e também usa imagens de arquivo da época paa colocar o público dentro da situação da Inglaterra daquela época. O protagonismo do país no mundo havia acabado ao longo da década e tudo pareceu mais acentuado no ano do Jubileu de Prata da rainha Elizabeth II, quando ela celebrou os 25 anos de reinado. Foi também nesse ano que o infame single "God Save the Queen" foi lançado e virou uma espécie de hino não-oficial daqueles dias. E o texto esperto de Craig Pearce consegue fazer boas adaptações para deixar o produto bom para TV, sempre gerando a curiosidade para saber o que vai acontecer no último episódio. O terceiro e quarto episódios são muito, muito bem escritos.

A série também se empenha em mostrar as histórias paralelas dos personagens. Fora os integrantes da banda, podemos ver como foi o relacionamento de McLaren com a designer de moda (e "só a costureira, segundo ele) Vivienne Westwood, a onipresença da modelo Jordan Mooney (ela morreu durante as gravações e foi homenageada em um dos episódios) e a luta de Chrissie Hynde (futura fundadora, guitarrista e vocalista dos Pretenders) para conseguir viver de música.

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Discos para história: Never Mind the Bollocks, Here's the Sex Pistols, do Sex Pistols (1977)

Nos últimos episódios, Vicious e Nancy Spungen dominam boa parte das cenas e da narrativa. O relacionamento meteórico dos dois colocou o Sex Pistols em uma situação delicada que ajudou a culminar no fim da banda, que acabaria de qualquer jeito. Nancy foi encontrada morta em um quarto no Hotel Chelsea, em 12 de outubro de 1978, supostamente assassinada por Sid, em um caso nunca resolvido e cheio de polêmicas até hoje. Pouco menos de quatro meses depois, o baixista morreu em consequência de uma overdose.

"Pistol" consegue mostrar com muita fidelidade o desconforto do jovem inglês daquele período fulminante e como ele passou a ser o motivo de desconforto de uma sociedade extremamente conservadora até os dias atuais. Com ótimas atuações e trilha, a série traz de volta o espírito punk aos corações mais calejados e mostra como aqueles três anos valeram por uma vida.

Avaliação: muito bom

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