Crítica: Bob Dylan - Shadow Kingdom

Bob Dylan, para delírio de fãs e críticos, está mais ativo do que nunca nos últimos anos. São seis trabalhos de estúdio desde 2012, entre canções inéditas e regravações, incluindo um álbum triplo. Por isso, foi com surpresa que todo mundo recebeu a notícia do lançamento de mais um trabalho de estúdio para 2023, apenas três anos após "Rough and Rowdy Ways".

Nascido em 2021 como um especial de TV e streaming, "Shadow Kingdom" traz Dylan e uma banda de primeiro nível, curiosamente sem baterista, reinterpretando grandes sucessos da carreira do compositor. Começando por "When I Paint My Masterpiece", que ganhar um ar mais incrementado do que a da gravação original, com a The Band, em 1971. Depois, vem no embalo "Most Likely You Go Your Way and I'll Go Mine", outra que ganha muito na regravação.

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"Queen Jane Approximately" tem um arranjo delicado e um Dylan discursivo e "I'll Be Your Baby Tonight" coloca nos ouvidos o lado country que o cantor sempre gostou de mostrar ao longo da extensa discografia. E, de maneira acertada, emenda uma sequência com "Just Like Tom Thumb's Blues" e "Tombstone Blues", confirmando a eterna sensação de uma ser continuação direta da outra.

O country retorna na animada "To Be Alone with You", mas, em "What Was It You Wanted", o trabalho ganha um tom mais sombrio em uma das muitas letras escritas por ele sem refrão ou ponte, funcionando quase como uma poesia cantada. E um dos destaques do trabalho é a terceira releitura de "Forever Young" que aparece em duas versões em "Planet Waves". Aqui, com inspiração da música tradicional escocesa, a faixa fica ainda melhor.

"Pledging My Time" coloca o blues de volta, já "The Wicked Messenger" está maior em duração e mais densa do que na versão original. Evocando o "momento saloon", "Watching the River Flow" coloca a banda em sintonia e mostra o motivo de todos eles trabalharem há anos com Dylan: o entrosamento é coisa finíssima. E o outro momento de puro brilhantismo no álbum é a nova versão de "It's All Over Now, Baby Blue", de chorar de tão boa. O trabalho encerra com a instrumental de teor dramático "Sierra's Theme".

Aos 82 anos, Bob Dylan propicia aos fãs mais um grande momento da carreira ao revisar o próprio material de maneira deixá-lo melhor e atualizado aos novos tempos. Ele, que sempre mexeu nas próprias músicas e nunca fez uma apresentação igual, faz de "Shadow Kingdom" um ponto a ser observado na carreira: nenhuma música é eterna.

Tracklist:

1 - "When I Paint My Masterpiece"
2 - "Most Likely You Go Your Way and I'll Go Mine"
3 - "Queen Jane Approximately"
4 - "I'll Be Your Baby Tonight"
5 - "Just Like Tom Thumb's Blues"
6 - "Tombstone Blues"
7 - "To Be Alone with You"
8 - "What Was It You Wanted"
9 - "Forever Young"
10 - "Pledging My Time"
11 - "The Wicked Messenger"
12 - "Watching the River Flow"
13 - "It's All Over Now, Baby Blue"
14 - "Sierra's Theme"

Avaliação: ótimo

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