Resenha: Foo Fighters - But Here We Are

O Foo Fighters virou uma das maiores e mais conhecidas bandas do mundo, com o carisma de Dave Grohl sendo um dos fatores determinantes para ajudar nesse crescimento. Musicalmente, desde "Wasting Light", de 2011, a banda tenta, sem êxito, emplacar um trabalho de qualidade semelhante em projetos que carecem de atenção e cheios de pressa.

Em 2022, o grupo sofreu dois baques enormes: o primeiro deles, na Colômbia, a morte do baterista Taylor Hawkins; o segundo, pouco menos de seis meses depois, a mãe de Grohl, Virginia, também partiu. Isso levou o mundo da música a se perguntar: teria o Foo Fighters forças para retornar após esse extenso período de luto? 

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Quem conhece a história do grupo, sabe que o nascimento ocorreu logo após a morte de Kurt Cobain, líder do Nirvana, quando Grohl resolveu trabalhar em uma fita demo que acabaria virando o primeiro álbum de estúdio. E assim como foi há quase 30 anos, o luto, reflexão e o trabalho duro foram combustíveis para "But Here We Are", novo disco de inéditas - o 11º da longa carreira.

Escrita logo após a morte de Hawkins, "Rescued" é o grito de socorro por parte de Grohl, um homem então movido pela raiva e tristeza, mas precisa aceitar o ocorrido para seguir. Aqui, podemos ouvir com clareza a bateria mais alta do que o normal nos últimos discos da banda, um reflexo de ele também ter gravado o instrumento em todas as faixas. O tom épico mistura-se com a melancolia e transforma a faixa em algo especial e melhor do que a maioria do material pós-2011.

A recuperação e os dias seguintes são retratados na potente "Under You", com o grupo trazendo o que sabe fazer de melhor - guitarras altas, refrão grudento e um alto poder de carisma - e na melancólica "Hearing Voices", quando tentar relembrar a voz de quem já partiu é um duro exercício de alegria e dor misturados. E após essa reflexão inicial nas três primeiras músicas, eles estão prontos para tocar a vida com a faixa-título, outra que emula os melhores momentos em estúdio.

Recomeçar significa aprender a crescer, e isso é aprender que as pessoas morrem e é algo natural, ensinamento importante da balada "The Glass", mas o grito de raiva surge na potente "Nothing at All", quando Grohl solta o vocal e grita muito mais do que o normal em um desabafo, aliviado na balada de inspiração shoegaze "Show Me How" para falar da morte da mãe - ainda mais emblemática ao ter a participação de Violet, filha de Dave.

A morte sempre rondou a história do Foo Fighters e era algo superado graças ao sucesso, conquistado com muito trabalho, mas a temática voltou com tudo nesse novo álbum de estúdio."Beyond Me" mostra bem isso, como esse assunto incontrolável nas nossas vidas retorna sem avisar em uma bonita homenagem a Taylor Hawkins ("But it's beyond me/ Forever young and free/ But it's beyond me/ Forever young and free").

Virginia é homenageada de maneira direta em "The Teacher". Professora durante muitos anos, ela foi responsável por boa parte da educação do músico, mas, como muitos responsáveis pelo mundo, não o ensinou sobre a morte, coisa que ele precisou aprender a lidar sozinho. Ao longo de dez minutos, a penúltima faixa do trabalho é uma viagem pela cabeça de Grohl e como ele passou pelo luto, tema que encerra o álbum na tocante "Rest".

Existia um receio muito grande de "But Here We Are" ser apressado e irregular como boa parte dos álbuns e projetos anteriores do Foo Fighters, mas, para minha surpresa, não foi. Escrito de forma sincera e honesta, as dez canções do trabalho recolocam Dave Grohl no caminho da reconexão mais sincera e profunda com os fãs, algo que ele sempre fez muito bem ao longo da carreira. Essa nova leva de canções sempre terão espaço na discografia da banda, principalmente para celebrar quem já partiu.

Tracklist:

1 - "Rescued"
2 - "Under You"
3 - "Hearing Voices"
4 - "But Here We Are"
5 - "The Glass"
6 - "Nothing at All"
7 - "Show Me How"
8 - "Beyond Me"
9 - "The Teacher"
10 - "Rest"

Avaliação: ótimo

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