Resenha: Sparks - The Girl Is Crying in Her Latte

Formado pelos irmãos Ron e Russell Mael no início dos anos 1970, o Sparks tem uma visão e estilo muito peculiares para fazer música. Admirados por isso pelos fãs, entre eles o diretor Edgar Wright - responsável pelo documentário "Os Irmãos Sparks" -, não conseguem furar a bolha e fazer mais sucesso. Mas quem se importa com isso? Eles não, certamente.

Nos últimos anos, a dupla tem vivido um sucesso nunca visto. Além do documentário, o musical "Annette", com roteiro deles e disponível na MUBI no Brasil, teve bastante repercussão. Aproveitando esse embalo todo, três anos após o último de inéditas, eles lançam "The Girl Is Crying in Her Latte", o 25º álbum de uma carreira admirável.

Veja também:
Resenha: Alison Goldfrapp - The Love Invention
Resenha: Daisy Jones & The Six - Aurora
Resenha: The National - First Two Pages of Frankenstein
Resenha: Mahmundi - Amor Fati
Resenha: Mudhoney - Plastic Eternity
Resenha: Feist - Multitudes

Estou no Twitter e no Instagram. Ouça o podcast, compre livros na Amazon e fortaleça o trabalho do blog!

O trabalho abre com a faixa-título, do clipe com participação especial de Cate Blanchett, e já podemos perceber que eles preparam o ouvinte para um trabalho conceitual, uma aventura pelo mundo do Sparks. Em qualquer outra banda, "Veronica Lake" seria uma faixa experimental e cheia de ideias, mas, em um álbum dos irmãos Mael, é apenas eles em um dia perfeitamente normal em uma canção das melhores.

A guitarra canta alto na grudenta "Nothing Is as Good as They Say It Is", um rock cheio de energia, diferentemente das experimentais "Escalator", esse de tom mais etéreo, e "The Mona Lisa's Packing, Leaving Late Tonight" e seu efeitos para criar um clima de despedida. Segunda melhor canção do trabalho, atrás apenas da faixa-título, "You Were Meant for Me" é a síntese dos Sparks: o uso de elementos eletrônicos misturados com instrumentos "normais" em uma música contagiante.

Em tom de ópera, "Not That Well-Defined" e "We Go Dancing" chegam para mostrar como eles ainda guardam muita inspiração vinda das canções de "Annette". E como qualquer álbum conceitual, o ouvinte começa a ser encaminhado para o final aos poucos. Aqui, esse momento começa em "When You Leave". Em seguida, aparece "Take Me for a Ride", faixa que parece ter sido composta por Danny Elfman para algum filme de Tim Burton.

A melancólica "It's Sunny Today" traz o ouvinte para um momento reflexivo e o prepara para o agito de "A Love Story". A balada no violão, e cheia de culpa, "It Doesn't Have to Be That Way" e se despedem do trabalho com "Gee, That Was Fun", em que, de maneira bem-humorada, "agradecem" vários acontecimentos do cotidiano.

Os Sparks não desapontam e, mais uma vez, entregam um trabalho de ótima qualidade em "The Girl Is Crying in Her Latte", um álbum que soa como se a vida fosse o País das Maravilhas contada a partir da perspectiva do Chapeleiro Louco. Com mais de 50 anos de carreira, a dupla continua afiada em contar boas histórias de um jeito nada usual.

Tracklist:

1 - "The Girl Is Crying in Her Latte"
2 - "Veronica Lake"
3 - "Nothing Is as Good as They Say It Is"
4 - "Escalator"
5 - "The Mona Lisa's Packing, Leaving Late Tonight"
6 - "You Were Meant for Me"
7 - "Not That Well-Defined"
8 - "We Go Dancing"
9 - "When You Leave"
10 - "Take Me for a Ride"
11 - "It's Sunny Today"
12 - "A Love Story"
13 - "It Doesn't Have to Be That Way"
14 - "Gee, That Was Fun"

Avaliação: ótimo

Comentários