Resenha: Elis & Tom - Só Tinha que Ser Com Você, por Roberto de Oliveira e Jom Tob Azulay

Documentário visto na programação do In-Edit Brasil, de 14 a 25 de junho, em São Paulo e no site oficial

Elis Regina e Tom Jobim tinham personalidades completamente diferentes no âmbito profissional. Ela, expansiva e cheia de energia; ele, econômico e controlador. Juntos, por um desses milagres do destino e de uma boa ideia, acabaram gravando um dos discos mais marcantes da música brasileira, "Elis & Tom", de 1974, história contada no documentário "Elis & Tom - Só Tinha que Ser Com Você", dirigido por Roberto de Oliveira e Jom Tob Azulay.

Também por uma dessas coincidências, vários momentos da gravação desse trabalho foram filmadas por uma câmera de 16mm, levada por Oliveira, então empresário de Elis, para Los Angeles, local da gravação do LP. E ele guardou essas imagens, agora restauradas na melhor qualidade possível, para usar como base para o longa. Além disso, ele teve acesso a todos os envolvidos no projeto ainda vivos no início da gravação, incluindo uma das últimas entrevistas de André Midani, morto em 2019, então chefe da gravadora Polygram. 

Veja também:
Resenha: Louder Than You Think, de Jed I. Rosenberg
Resenha: Imagine The Sound, de Ron Mann (1981)
Resenha: Twist, de Ron Mann (1992)
Resenha: Fausto Fawcett na Cabeça
Resenha: Hot Club de Montevideo
Resenha: Bono & The Edge - A Sort of Homecoming com Dave Letterman

Estou no Twitter e no Instagram. Ouça o podcast, compre livros na Amazon e fortaleça o trabalho do blog!

Com tantos craques, fica quase impossível fazer algo de errado aqui, certo? Com uma história ótima, personagens dispostos a falar e imagens de arquivo única e nunca vistas antes, um filme desse é jogo ganho. Uma pena que a edição quase estraga a experiência ao fazer escolhas, no mínimo, duvidosas para alongar o tempo e forçar o choro do público.

Uma dessas escolhas ruins é a exploração da morte de Elis Regina, com imagens dela no caixão e no enterro. Precisava disso? Ainda mais em um pedaço do filme chamado "Antes". Ou ela morreu antes da gravação e ninguém ficou sabendo? E no final exploram a partida dela de novo. Se já haviam feito uma vez, precisava fazer de novo? E por que não mostraram Tom Jobim morto também? É só a morte dela que merece ser explorada? E para início de conversa, nem era para ter nada disso, já que o foco deveria ser a história do disco e os tensos bastidores - uma disputa entre um quieto César Camargo Mariano e um agigantado Tom Jobim, sempre responsável pelos arranjos dos próprios trabalhos desde sempre.

Outro ponto de incômodo é ser um documentário playlist, com música tocando em longos momentos. Faltou mais equilíbrio nisso. Ainda bem que as ótimas imagens de arquivo acabam encobrindo um pouco esses problemas, assim como os depoimentos dos envolvidos. É uma delícia ouvir os músicos da gravação falando de como eles encontraram o jeito de cada música e ajudaram a transformar Elis Regina em um verdadeiro fenômeno. E o trabalho de Jobim também é alvo de elogios, não apenas por ser um dos pais da Bossa Nova, mas pelo que fez ainda muito jovem - Frank Sinatra gravou um disco só com músicas dele, um feito inédito.

"Elis & Tom - Só Tinha que Ser Com Você" tinha tudo para ser um material excelente, porque a história é boa para não precisar forçar o choro - a música feita por eles é suficiente para emocionar qualquer um que não tenha um coração de pedra. Mas escolhas ruins e certa falta de elegância na edição transformam esse material em algo apenas bom, beirando o decepcionante.

Avaliação: bom

Comentários