Resenha: Planet Hemp - Jardineiros

O Planet Hemp ficou conhecido nacionalmente por ser a favor da liberação da maconha e os integrantes chegaram a ser acusados de apologia e, presos, passaram cinco dias na cadeia em 1997. Isso deu ainda mais fama a eles, que, musicalmente, faziam um som misturando rap, rock e letras de protesto. Com o fim das atividades no início dos anos 2000, poucas pessoas esperavam um retorno.

Apresentações esporádicas aconteceram ao longo dos anos, incluindo um filme para celebrar os 25 anos de carreira. No final de 2021, o grupo se reuniu novamente para gravar um álbum após mais de duas décadas. O resultado é "Jardineiros", o primeiro trabalho de inéditas desde "A Invasão do Sagaz Homem Fumaça", de 2000.

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Logo de cara, "Marcelo Yuka" abre o disco com uma fala do ex-baterista d'O Rappa, morto em 2019 - a prova de que o Planet Hemp virou o herdeiro intelectual dos pensamentos do músico. O álbum começa "de verdade" em "Distopia", com Criolo, e mostra um grupo mais afiado do que nunca em explorar as temáticas do Brasil dos últimos anos.

"Taca Fogo" explora a influência do hardcore para falar sobre a própria banda a sociedade de maneira geral. E se "Puxa Fumo" traz - novamente na discografia - o pedido pela liberação da maconha, "O Ritmo e a Raiva" conta a história dos primórdios do Planet Hemp com a colaboração de Black Alien, ex-integrante. E "Jardineiro" defende o "não compre, plante" e diz "jardineiro não é traficante" - um recado para deixar claro que uma parcela razoável de quem usa maconha só quer fumar sem incomodar ninguém.

"Amnésia" é uma clara viagem sob efeito de substâncias psicotrópicas e alucinógenas, mas é na colaboração com o rapper argentino "Meu Barrio" com Trueno que o trabalho ganha muito com essa mistura do hardcore/rap do Planet Hemp com esse estilo argentino de rap mais cheio de suingue e acelera para valer em "Fim do Fim", diferente da crônica bem atual "Eles Sentem Também" - o vocal de apoio dá muita força ao discurso.

Com toques de funk, "Ainda" traz outra "homenagem" à maconha e ao próprio Planet Hemp, já "Remedinho" fala sobre a liberação de determinados remédios, enquanto a maconha segue proibida. Tantão e os Fitas chegam com força para falar da América Latina de maneira geral em "Veias Abertas". "Planeta Maconha" e "Onda Forte" se complementam e encerram o trabalho.

O retorno do Planet Hemp já era algo importante porque o repertório deles ainda segue muito atual. "Jardineiros" atualiza a discografia com um retrato do nosso tempo cheio de hipocrisia em leituras precisas sobre como pioramos como seres humanos nos últimos 20 anos. O título do segundo disco do grupo, chamado "Os Cães Ladram, mas a Caravana Não Para", ainda serve para definir a banda, melhor do que nunca.

Tracklist:

1 - "Marcelo Yuka" (com Marcelo Yuka)
2 - "Distopia" (com Criolo)
3 - "Taca Fogo"
4 - "Puxa Fumo"
5 - "O Ritmo e a Raiva" (com Black Alien)
6 - "Jardineiro"
7 - "Amnésia"
8 - "Meu Barrio" (com Trueno)
9 - "Fim do Fim"
10 - "Eles Sentem Também"
11 - "Ainda" (com Tropkillaz)
12 - "Remedinho"
13 - "Veias Abertas" (com Tantão e os Fitas)
14 - "Planeta Maconha"
15 - "Onda Forte"

Avaliação: ótimo

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