Resenha: Os Beatles e a Índia, de Ajoy Bose

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Vários artistas tiveram a vida e a discografia exploradas em diversos materiais ao longo dos anos. Recentemente, vários diretores e autores optaram por fazer recortes específicos de determinada época para focar na importância de acontecimentos que mudariam a história daqueles artistas.

Dirigido por Ajoy Bose, o documentário "Os Beatles e a Índia" se encaixa perfeitamente nesse novo material dos últimos anos. Ao longo de pouco menos de 100 minutos, o longa explora toda relação do grupo com o país que fascinou os quatro ao longo de quase três anos e mudou a vida de George Harrison para sempre.

Sem os direitos das músicas dos Beatles, Bose trabalha com uma trilha sonora original e versões de alguns dos sucessos, e essa lacuna é bem preenchida que é possível não sentir falta. Para ilustrar as falas, ele conta com imagens de arquivo, algumas bem conhecidas e outras nem tanto, principalmente do período no ashram de Maharishi Mahesh Yogi, na Índia.

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Contada de maneira cronológica, a história é apresentada ao público de maneira muito simples. As pessoas que tiveram a oportunidade de estar perto de alguma forma enriquecem e emocionam a narrativa. Para muitos, foi o auge da vida na Terra. É bom lembrar que os Beatles estavam no melhor momento da carreira, sendo praticamente intocáveis. Ao conseguir ter contato, essas pessoas entram em um seleto grupo de privilegiados.

Assuntos anteriormente explorados, como o interesse na música indiana e a morte do empresário Brian Epstein, são colocados de maneira protocolar como parte complementar do que é fundamental: a experiência de morar na Índia por alguns meses. E é essa a melhor parte.

Os depoimentos, combinados com imagens de arquivo da época, ajudam a dar o tom desse último momento de paz antes de tudo implodir na banda pouco tempo depois no caótico "White Album". Na Índia, entre exercícios de meditação, lições do Yogi e uma paz nunca vista, eles puderam focar neles mesmos em muito tempo. Mas é claro que, pela relação construída ao longo dos anos, Harrison é o destaque do longa, principalmente ao sabermos um pouco mais da relação dele com Ravi Shankar — histórico tocador de sitar e amigo até o fim da vida do beatle — e como ele mudou de vida ao entrar de cabeça na cultura indiana.

O documentário também fala sobre a ganância do Yogi ao explorar a relação com os Beatles para alavancar fundos e investimentos para manter a estrutura de funcionários e sedes pelo mundo. E, sem dar spoilers, o delicado assunto do suposto abuso sexual com uma aluna do ashram ganha uma nova perspectiva quando uma revelação importante é feita. A relação entre a banda, principalmente de Harrison e John Lennon, termina mal com o Maharishi, como já foi dito e escrito ao longo dos anos. Mas uma reviravolta acontece no futuro.

"Os Beatles e a Índia" é um trabalho muito simples e com a perspectiva indiana da passagem da banda pelo país, algo que faltava para completar os relatos feitos. Bom e sem firulas, é um documento importante para mostrar como, a partir daquele momento, cada beatle ganhou individualidade. E isso foi determinante para os anos seguintes, culminando no fim da banda.

Avaliação: bom

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