Ao esconder perda de material inestimável para música, Universal mostra que só lucro importa


No último final de semana, a revista publicada pelo jornal New York Times aos domingos revelou que um incêndio em 2008 no galpão da Universal destruiu masters de importantes músicos -- a matéria chama-se "The Day the Music Burned" ("o dia em que a música queimou, em tradução literal) -- com uma reconstituição bem precisa de todos os acontecimentos. As perdas vão de coisas inestimáveis dos anos 1940 até coisas atuais.

No dia seguinte, o site do próprio jornal publicou um resumo de todas as importantes perdas. Os originais gravados por Billie Holiday, Louis Armstrong, Duke Ellington, Al Jolson, Bing Crosby, Ella Fitzgerald e Judy Garland da época da gravadora Decca foram completamente destruídos, assim como gravações de Chuck Berry do período da Chess também foram perdidas.

Originais de de Ray Charles, B.B. King, Joan Baez, Neil Diamond, Sonny and Cher, Joni Mitchell, Cat Stevens, Al Green, Elton John, Eric Clapton, Eagles, Aerosmith, Barry White, Tom Petty and the Heartbreakers, Police, Sting, R.E.M., Janet Jackson, Guns N’ Roses, Mary J. Blige, No Doubt, Nine Inch Nails, Snoop Dogg, Nirvana, Beck, Tupac Shakur, Eminem, 50 Cent, The Roots e outros foram queimados e destruídos para sempre. Por fim, uma parte considerável do material gravado por Buddy Holly foi perdido, assim como canções de John Coltrane da época em que esteve na gravadora Impulse. Fora importantes singles históricos, como original de "Rock Around the Clock", de Bill Haley and His Comets, e "At Last", de Etta James.

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O mais impressionante disso é como a Universal conseguiu esconder isso por tanto tempo, já que há relatórios dando conta dessas perdas inestimáveis para a música. À época, matérias foram feitas sobre o incêndio, mas, até então, as perdas informadas pela gravadora eram apenas de vídeos, especiais e clipes já remasterizados. Ninguém sabia nada de masters e arquivos de música até a matéria cavar a história e descobrir. A perda só foi divulgada aos respectivos artistas e espólios em documentos sigilosos obtidos pela reportagem.

Óbvio que está em curso discussões e debates do papel das gravadoras como guardiões da história da música. Uma das discussões é o oligopólio dessa indústria. O que chegou a ser um Big Six, hoje está reduzido a Sony Music Entertainment, Warner Music Group e Universal Music Group. Grandes gravadoras históricas como EMI, BMG e Polygram foram vendidas ou se fundiram com algumas das hoje mais poderosas. E outras, menores, foram compradas sem pudores pelos poderosos.

No livro "Como a Música Ficou Grátis" (clique aqui e veja a resenha), o autor faz um panorama muito completo do período de crise que a indústria enfrentou e como essas fusões e compras ficaram mais comuns no final dos anos 1990 e início dos anos 2000. Disso para criar regras próprias sem nenhuma alternativa é um pulo.

É claro que essas fusões foram feitas unicamente com o objetivo de ganhar dinheiro e apenas isso. Só românticos acreditam que empresas têm algum tipo de amor pela música ou pelo o que ela gera em nossas vidas. Os artistas têm, o diretor antes de chegar a um alto cargo tem, quem gosta de música tem. Empresa não tem. É isso que pega. Como uma empresa forjada para dar lucro pode ser responsável por guardar a história da música? Que tipo de multa ou punição esse tipo de coisas deveria gerar? Porque uma parte inestimável da música virou fumaça, literalmente. Eram materiais com um imenso valor arqueológico para quem desejava conhecer esses originais e tentar entender o processo de gravação deles. Não será mais possível saber dessas coisas. A Universal esconder isso do público só mostra que o lucro sempre será algo mais importante do que a arte, mesmo para uma empresa que deveria guardar com cuidado todos esses arquivos inestimáveis.

O mundo da música está de luto desde o fim de semana, quando a matéria saiu. O pior é saber que, provavelmente, não vai dar em nada. É de perder a esperança em tudo.


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